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sábado, 3 de abril de 2010

A TRAIÇÃO DE JUDAS À LUZ DAS ESCRITURAS

Das causas e argumentações cristãs e as contra argumentações
1. Judas traiu Jesus por ambição e forte apego às materialidades 
Argumentações:
  • É bastante comum o entendimento cristão que a ambição de Judas ao dinheiro, fê-lo a trair Jesus, de livre e espontânea vontade. De fato Mateus 26: 14 e 15, diz que Judas foi ter com os principais dos sacerdotes, e com eles acertou, por uma quantia em dinheiro (30 moedas de prata), entregar-lhes Jesus.
  • Que a prisão e morte de Jesus já estariam acertadas pelas autoridades constituídas em Israel, bastando apenas saber quando e como o fariam, sem causar alvoroços e reações populares daqueles que seguiam o Mestre; então a oferta de Judas em entregar-lhes Jesus, alegrou aqueles que já haviam decidido por isso, e convieram em dar dinheiro àquele que lhes prestava tão grande favor, segundo Lucas 22: 5.
  • Judas, que era homem de má índole,  traiu Jesus de livre e espontânea vontade; poderia não fazer, mas o fez movido pela ambição ao dinheiro.
Contra argumentação:
Se a ambição estivesse em Judas, mais interessante seria manter-se ao lado de Jesus, uma garantia certa de entrada de recursos cada vez maiores nos últimos tempos do ministério de Jesus, com adesões de pessoas bem situacionadas. Ademais, havia ainda a possibilidade de triunfo do movimento e certamente Judas faria parte do governo a ser instaurado.
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2. Prefiguração: Salmos 41: 9 ou 10, conforme tradução ou versão: "Até meu íntimo, que gozava da minha confiança, que partilhava o meu pão, levantou-se contra mim à traição".
Argumentações:
  • Judas se predispôs ao cumprimento integral das profecias, acerca do Messias Sofredor, vistas, por exemplo, em Isaias 52: 13-15 e 53: 1-12, ratificada em Atos 1:1 6, "irmãos, era necessário se cumprisse o que na Escritura o Espírito Santo predisse pela boca de Davi, acerca de Judas, que se tornou guia dos que prenderam a Jesus".
  • Desde que Jesus admitiu ser o Messias, Judas procurou por seu lado enquadrar-se também nas Escrituras e assim cumprir seu iníquo papel. Lucas 22: 3 relata que "entrou, porém, Satanás em Judas", e a partir desse instante Judas buscava oportunidade para entregar Jesus às autoridades, o que implica vacilação do ex-apóstolo que deu lugar ao Demônio, motivado pela ambição pessoal, além de colocar-se ao dispor das forças infernais, para que Jesus tornasse um fracassado.
  • Judas não era predestinado àquilo, poderia ser outra pessoa, mas sua ambição pelo dinheiro e entrega pessoal a Satanás, o levaram a cometer tão estúpida ação.
Contra argumentação:
Judas, conforme nos é dado entender, e as Escrituras apoiam semelhante tese, tinha interesses materiais em seguir Jesus, conforme todos os demais seguidores do Mestre, aspectos em que, nada tendo de espiritual, jamais Judas iria predispor-se ao cumprimento de qualquer profecia. 
Jesus enquadrava-se no papel de Messias Redentor, sendo isso o que dele esperavam os apóstolos, pois que nunca Jesus posicionou-se como Messias Sofredor.
Nos conciliábulos, Marcos 10: 29-30, a promessa de Jesus era a instauração dum reino terrestre, a partir de Israel, e era isso que desejavam os apóstolos. 
A eventualidade de Judas ser possuído por Satanás, para cumprimento da traição, leva-nos absolvê-lo de qualquer má ação referente.
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3. Judas seria mau caráter: "Ora, ele disse isto [no caso da mulher que ungiu Jesus com unguento], não pelo cuidado que tivesse dos pobres, mas porque era ladrão, e tinha a bolsa, e tirava o que ali se lançava" (João 12: 6)
Argumentações:
  • Judas seria mau caráter desde que se aproximara de Jesus, e há muito vinha roubando os próprios companheiros.~
  • O ato da traição foi apenas sequência de um desajustado social, que não soube resistir a oferta em dinheiro oferecida, para entregar Jesus às autoridades numa melhor oportunidade, de modo que não viesse causar problemas com aqueles que seguiam o Mestre.
  • Judas já era do Diabo, porém Jesus o manteve no grupo porque era necessário cum-prir as Escrituras.
Contra argumentação:
Se Judas esteve no grupo de Jesus durante todo o ministério, à exceção dos dois últimos dias, e ainda assim era mau, difícil compreender sua sorte na campanha mencionada em Mateus 10, salvo se Jesus era ingênuo. Por outro lado, manter Judas no grupo, sabendo-o do diabo e não o curando conforme agia com outras pessoas, apenas para que se cumprissem as Escrituras, Jesus era muito mais terrível que Judas e seu messianismo apenas parcial.
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4. Ambos, Jesus e Judas, seriam predestinados? "Estamos a falar da sabedoria de Deus, envolta nos arcanos [mistérios], sabedoria escondida, que, antes dos séculos Deus já havia destinado para a nossa glória. Nenhum dos príncipes deste mundo conheceu, porque se de fato tivessem conhecido, não o teriam, ao certo, crucificado o Senhor da Glória (I Corintios 2: 7-8).
Argumentações:
  • Havia disposição e necessidade divina de se fazer oculta e impenetrável às forças infernais, de como se daria realmente o plano da redenção da humanidade, por Cristo Jesus.
  • Se a tríade L.S.D. [Lúcifer, Satanás e Demônio] tivesse conhecimento antecipado dos planos de Deus, certamente teria evitado os impulsos das autoridades de Israel em aprisionar e matar Jesus, inclusive também o ato de Judas em trair e entregar o Mestre àqueles que o buscavam para a crucificação.
  • O plano espiritual da redenção exigia o sacrifício do filho de Deus, tal qual da maneira ocorrida, com um traidor predestinado.
  • Ato cruel de Deus para com Judas? Não, se ele não poupou nem seu próprio filho, antes o entregou à morte por todos nós, o que significaria Judas, no contexto das coisas?
  • Deus em sua presciência predestinou, uns para salvação, outros para perdição, por aquilo que se pode entender de Romanos 8:29 e seguintes, nisso a Jesus o destino final de sua missão, enquanto a Judas o seu quinhão participativo.
Contra argumentação:
Prevalecendo tese da predestinação, nada a discutir, até porque não se pode e nem há como nos referirmos à justiça divina. Se a traição tenha sido livre-arbítrio, a anulação salvacionista é de pronto, pois que Jesus para redimir a humanidade não precisava em absoluto da morte, e morte de cruz; mas, isso em si, já seria admitir contradições quanto ao messianismo prático de Jesus e as argumentações escriturísticas.
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5. O que efetivamente se passou entre Jesus e Judas segundo os Evangelhos? "O que tens de fazer, faça-o logo. E nenhum dos que estavam assentados à mesa, compreendeu a que propósito [Jesus] lhe dissera isto [a Judas]; porque como Judas tinha a bolsa, pensavam alguns que Jesus lhe teria dito: compra o que nos é necessário para a festa; ou que desse alguma coisa aos pobres. E, tendo Judas tomado o bocado, saiu logo. E era já noite" (João 13: 26 [u.p] ao verso 30). 
Argumentação:
  • Judas já havia, em sua mente, traído Jesus, faltando apenas o ato da entrega.
Contra argumentação:
O texto bastante conhecido, pouco compreendido pela cristandade, é aquele em que Jesus prediz, pela vontade dos biblistas, que Judas o há de trair. 
O texto, por si deixa claro que ninguém ali sabia nada daquilo que Jesus confabulara com Judas, e então o fato que Judas viria trair o Mestre, somente mais tarde poderia ser colocado.
Jesus e Judas não se pronunciaram a respeito daquela conversa perante dos demais apóstolos, então todo acrescido é apenas mera especulação.
O que se entende da passagem é que os apóstolos nada sabiam, onde acréscimos ou certos posteriores não ajustam situações, pois se era noite não era hora de comprar nada [e ainda estavam ceando], e se ninguém ouviu ou entendeu o que Jesus e Judas conversaram, isto pode ser tudo ou nada do que imaginavam. 
Se o que se tem a respeito não nos permite deduzir nada além daquilo que está escrito, como também não nos é lícito interpretar onde as letras se calam, então daquilo que não se vê nem se ouve, em especial quando não se compreende, não é justo pressupor para que se faça apenas cumprir, o que se pretende por certo para ajustes de situações.
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6. Das outras especulações pretendidas 
Era mesmo preciso o ato da traição para se prender Jesus?
Os sacerdotes e autoridades sabiam quem era Jesus e, apenas dentro deste princípio, não lhes seria difícil prendê-lo, com isso a desnecessidade do ato da traição. 
No entanto, Jesus era um itinerante imprevisível, sempre seguido de pessoas por ele dispostas a lutar. A Bíblia 'fala' em multidão de seguidores e somente em raras ocasiões o Mestre recolhia-se para meditações, às vezes acompanhado por apenas três apóstolos (Pedro, Tiago e João), conforme Mateus 24. 30. 
Nestas circunstâncias era preciso alguém que soubesse detalhadamente dos passos de Jesus com certa antecipação, para a prisão, sem riscos de revoltas. Um elemento infiltrado seria de extrema valia para aqueles que pretendiam a prisão de Jesus, que tinha, entre seus seguidores, os extremistas barjonas os quais em algumas situações o haviam livrado de certos perigos, conforme se pode concluir das citações bíblicas. 
Nestes considerandos, e se efetivamente uma multidão sempre acompanhava Jesus em suas andanças, seria bastante arriscada sua prisão em público, sem algum elemento infiltrado para a escolha do momento oportuno, ou mesmo que pudesse identifica-lo entre outros tão iguais, talvez até pelo uso de vestimentas assemelhadas e capuz. 
Então, se Judas realmente entregou Jesus, era um infiltrado e aí cumpria seu papel, aguardando apenas o momento azado. Não sendo isto, então Judas teria alguma séria razão para o seu ato, e assim, ainda na Bíblia, vamos procurar as razões.
6.1. Pelos desígnios de Deus
Jesus e Judas simbolizavam, desde o princípio, o bem e o mal, ambos já predestinados para a missão redentorista. Judas seria o mal necessário para o projeto divino de reintegração espiritual e social do homem. Deus encarnou-se homem, ou ao mundo enviou seu unigênito filho, para a realização da obra de salvação, através de morte sacrificial, e aí a contribuição de Judas com o ato da traição.
Horrível pensar isto de Deus.
6.2. Judas teria motivação pessoal
Judas esperava de Jesus um milagre genuíno ainda não acontecido. Aí cabe o entendimento que Judas quis realmente comprovar se Jesus era mesmo o Messias, entregando-o aos algozes para com isso forçá-lo a realizar o milagre de anjos acorrerem para sua libertação.
Algo assim teria duas possibilidades de realizações, nenhuma delas favorável a Judas, quais sejam: 
  1. Se o milagre não ocorresse, e Judas esperava por isso, cessariam seus lucros.
  2. Se os anjos socorressem Jesus, Judas não seria nada bem visto por aquele a quem entregou e nem por ninguém.
Judas, conhecedor das potencialidades do Mestre, não se arriscaria assim.
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7. Judas realmente sabia quem era Jesus
7.1. Um inflitrado
Pressupondo existência histórica, Jesus era pessoa bastante popular [pelo menos deveria ser], sempre cercado de multidão pronta a defendê-lo, além de políticos extremistas, representados pelos apóstolos, capazes de atentados e atos suicidas, portanto arriscado prende-lo sem causar tumultos e sacrifícios inúteis de vidas humanas.
Nisto seria preciso um infiltrado ou alguém que intentasse entregar o Mestre, que viria facilitar captura-lo nalgum lugar ermo, numa hora em que estivesse o mínimo de pessoas ao redor do Mestre.
Conhecedor dos hábitos de Jesus, onde encontrá-lo e a melhor hora, inclusive para identificá-lo entre os seguidores todos assemelhados pelas vestes [e capuz], Judas seria de extrema importância aos perseguidores, embora no ato da prisão Jesus tenha se apresentado antecipadamente, tornando desnecessária referida identificação.
Acreditamos ainda assim não termos os motivos reais da traição, embora especialistas sustentem que trinta moedas significassem soldo de três anos de um soldado romano, conforme Danillo Nunes expõe em sua obra, frequentemente citada neste trabalho. 
Justificamos: os adeptos e financiadores da campanha de Jesus aumentavam dia a dia e com isso os rendimentos, onde Judas se ganancioso e ladrão, não abandonaria a possibilidade de rendimentos maiores, pois vivo e em liberdade Jesus significaria lucros bem maiores que as trinta moedas.
7.2. Algum ato desonroso de Jesus e merecedor de traição
Sustentam alguns críticos que Judas identificara em Jesus algum ato desonroso e/ou de covardia, sentindo-se traído pelo Mestre, por isso resolveu entregá-lo às autoridades.
Mas que ato seria este assim tão terrível, para que se possa justificar a atitude de Judas?
A Bíblia nos dá elementos possíveis para referida e necessária identificação, de pelo menos um bom motivo para Judas delatar Jesus. Para isso, todavia, é necessário ter em mente aquilo que os apóstolos e seguidores realmente esperavam de Jesus, ou seja, de sua liderança fundamentada na promessa de se restaurar o reino [político e religioso] de Israel.
  1. Mateus (21: 1-17 e referências) traz a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, aclamado rei libertador de Israel: 
  2. “Bendito o Rei que vem em nome do Senhor” (Lucas 19: 38). 
  3. Mateus avança com a afirmação que referido acontecimento dava-se para cumprimento das antigas profecias vistas em Zacarias 9: 9-10 e 14: 4-16, Isaías 62: 11.
Citadas passagens bíblicas são fundamentalmente políticas e de libertação nacional, como a restauração do reino e o retorno às antigas formas de religiosidades. Jesus encarnara exatamente isto quando se predispôs entrar em Jerusalém, conduzido pela multidão cuja intenção era, sem dúvidas, a tomada do poder; pensar o contrário, que a motivação de Jesus seria outra, é o mesmo que lhe atribuir inocência diante daquilo que ele próprio representava diante do povo.
Ora, a entrada do Mestre em Jerusalém, mesmo conforme narrado pelos evangelistas, foi ato político pensado com bastante antecedência, programado e enfim posto em execução exatamente numa data cívica religiosa, onde acorreria grande multidão, presenças certas não só de religiosos oficiais e excluídos, como dos marginalizados sociais, frustrados, perseguidos, promotores de atentados terroristas, e mais um contingente de revoltados facilmente manobráveis e prontos às ações numa primeira provocação ou ordem, posto Israel num período de intensa agitação política pró-libertação pátria.
Não se pode ignorar que Jesus seguiu, portanto, um plano traçado indo diretamente ao Templo, para dar início à rebelião posta em prática, através de seu ato de agredir comerciantes estabelecidos nas proximidades (Lucas 19: 45-48), como o sinal para a revolta, um expressivo gesto do qual valeram-se os zelotas, barjonins e nacionalistas outros de primeira ordem, para estabelecimento de violenta insurreição popular cujo tumultuo ganhou ruas e praças, numa crescente desordem e violências, num contagiante conflito de proporções, até o momento do confronto final com os defensores romanos.
É impensável que o gesto agressivo de Jesus, diante dos comerciantes, não viria desencadear aquela revolta popular.
A ausência de historicidade de Jesus, em especial quanto à época, não nos permite identificação exata de algum motim conforme narrado pelos evangelistas, no qual viria dentre os presos destacar-se Barrabás. Todavia a despeito da deficiência histórica e das divergências entre os narradores bíblicos, ainda assim é possível reconstituir um quadro completo daquela revolta popular, sem dúvida iniciada por Jesus junto daqueles que o aclamaram rei.
Identificação maior de algum acontecimento próximo cita-nos Lucas 13: 1-5, sobre galileus massacrados, num episódio conhecido por 'queda da Torre de Siloé', sabendo-se que aqueles insurretos postaram-se em referida fortaleza, tomada pelos romanos depois de intensos combates, vindo culminar com a morte de dezoito rebeldes e prisão de muitos. 
O mesmo autor do evangelho Segundo Lucas informa, capítulo 23: 18-19, que dentre os presos pelos romanos estava Barrabás, "um tal que fora posto na cadeia por causa de uma insurreição que tinha havido na cidade [Jerusalém] e por um homicídio".
Marcos 15: 7 corrobora com a assertiva ao dizer Barrabás como um dentre os amotinadores presos e que num motim cometera uma morte.
O relato de Lucas 13, pelos analistas, é considerado nebuloso nos primeiros versos, em relação ao que se segue, ou seja, extemporâneo dentro do contexto daquele capítulo, embora não se possa objetar que fatos descritos remetem-nos, sem dúvidas, ao episódio da entrada triunfal de Jesus em Jerusalém.
Posto isto, entende-se conforme exposto e aqui repetido para maior compreensão, que seguido ao gesto de Jesus contra os mercadores, ocorrera violenta manifestação popular com sérios confrontos entre soldados e multidão, a culminar com combatentes do povo sitiados na torre de Siloé, esta posta abaixo pelos romanos numa resultante de dezoito mortos dentre rebelados, prisão de muitos, entre os quais o tal Barrabás que, em breve, seria imortalizado como pivô de uma história que há dois mil anos acompanha a humanidade, o que não nos interessa no momento.
Jesus diante da irrupção popular e da violenta reação dos soldados a serviço dos governantes de Roma, segundo narram os evangelhos, retirou-se ligeiro do local, deixando os revoltosos à deriva, a ignorar inclusive os sitiados junto da Torre de Siloé.
O ato do Nazareno foi, sem dúvidas, covarde, pois que deixar conduzir-se pela multidão, que o aclama rei, e dar início a uma revolta popular para depois refugiar, não foi das suas melhores ações. Difícil não imaginar a decepção daqueles que nele depositavam crenças, esperanças e bens materiais; para aqueles mais próximos de Jesus, os apóstolos e alguns discípulos, a decepção talvez tenha sido ainda maior, um ato de traição às causas propostas.
E mais outra decepção ocorreria, pela narrativa de Marcos 11: 27-28 quando Jesus, interpelado pelos principais dos judeus acerca dos acontecimentos, do dia anterior [e acima narrados], mostrou-se omisso das responsabilidades. Se não bastasse esta infâmia, Jesus em seguida [Marcos 12: 13-17] revelou-se colaboracionista dos romanos.
Era exatamente o que bastava para qualquer dos seguidores abandonarem ou mesmo traíssem Jesus, pois que se sentiram primeiro abandonados e traídos pelo Mestre, exatamente na causa mais nobre que os levara a tudo abandonar para seguir o Nazareno, ou seja, a causa ideológica [política] de libertação de Israel e restauração do reino. 
Não somente a Judas, mas a todos demais seguidores, Jesus evidenciara enfim seu caráter tíbio e reais intenções de aceitação e submissão ao governo romano, nas quais em absoluto eles esperavam ou apostavam. Entenda-se: nenhum judeu, galileu ou samaritano que fosse, imaginava exclusivamente espiritual a mensagem de Jesus, sentido este que somente no século IV seria dado às palavras e missão do Mestre.
Daí ao ato de entregar oficialmente Jesus aos sacerdotes judeus e representantes romanos, muito mais que gesto heroico, era devido a obrigação de quem se sentira traído em seus propósitos; e Judas o fez sem titubear e nem ao menos imaginar que sua memória seria conspurcada como o mais vil nome da história ocidental, ante de Adolf Hitler. 
Mesmo se o assunto devidamente conduzido aos planos da espiritualidade, ninguém ao menos também deu conta que sem o ato de Judas, seja heroico ou de traição, jamais haveria a redenção da humanidade.
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8. E se Judas não traísse Jesus?
Certamente as escrituras [profecias] não se cumpririam, e todos nós estaríamos perdidos em termos de salvação eterna.
O salvacionismo cristão decorre em razão da morte sacrifical de Jesus Cristo. Não seria possível a redenção pretendida, caso Jesus não se predispusesse ao martírio do calvário. O Antigo Testamento prefigura os acontecimentos com justificações devidas, enquanto o Novo narra razões e fatos que todas as igrejas cristãs pregam.
Sendo predito e necessário o martírio de Jesus para salvação de toda humanidade, também é certo que para fiel cumprimento das Escrituras, ou dessa obra redentorista, alguém haveria de trair o Mestre, conforme evangelho segundo João 13:18, com pré-figuração no livro dos Salmos 41:9. Não se pode pensar aqui numa ação isolada [uma sem a outra], caso assim tudo aquilo que foi e é para a salvação eterna, simplesmente não mais seria.
Se a grande missão de Jesus foi ter o Cristo em si, isto é, o espírito predestinado para a maior de todas as ações divinas, tão bem expressa no evangelho de João 3:16, o drama maior de Judas foi entregar seu Mestre à morte, ato do qual não poderia furtar-se sob pena do não cumprimento das Escrituras, pondo a fracassar toda pretensão divina de salvar a humanidade de seus pecados.
Jesus, por Mateus 26:36 ao 46, angustia-se e clama a Deus para que este o libere de tão dolorida missão, numa oração insistente que evidencia sua natureza humana, temerosa e frágil, diante das circunstâncias que, na qualidade de homem-deus, sabia ser necessário suportar. Mas enquanto Jesus titubeava lá com suas razões, Judas (João 13:30) partia resoluto para aquela terrível missão que, até instantes antes não sabia ser ele o executor, ou o determinado a cumprir tão importante profecia.
Judas, como os demais apóstolos, quando Jesus predisse que alguém o haveria de trair [para que se cumprisse as Escrituras], também perguntou igualmente ao Mestre: “porventura sou eu Senhor?”; o veredicto caiu-lhe como uma bomba: “Tu o disseste” (Mateus 26:20-25).
Não se pode afirmar pela teologia, nem há fundamento bíblico para isso, que exata-mente Judas fosse o predestinado – também não lhe coube direito de escolha [livre arbítrio] – àquele ato de traição, todavia pode-se afirmar com toda segurança bíblica, que o ato da traição esse sim era predestinado e caberia alguém executá-lo, logo e bem.
Nenhum dos apóstolos sabia quem seria o traidor, já o dissemos, poderia ser qualquer um deles, preocupação muito bem descrita no evangelho segundo Lucas (22:23): “E começaram a perguntar entre si qual deles seria o que havia de fazer isto”, o que significa dizer fosse quem fosse dentre eles que Jesus viesse indicar, sem dúvidas essa pessoa cumpriria a ordem inquestionavelmente, pois que em tal designação, tão somente nela, centrava-se todo o messianismo descrito em Isaías 53.
Os versículos que informam sobre o preço da traição, não antecedem o quadro exposto, conforme se vê nas versões bíblicas atuais, tratando-se, portanto, de justaposições e acréscimos posteriores, para justificar a humilhante morte de Jesus, e fazer hediondo o ato atribuído a Judas.
Na cruz, no alto do Gólgota, Jesus ainda se lastimava aos gritos: “Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste?” (Mateus 27:46 e referências), enquanto no galho forte de uma figueira à beira de um abismo, Judas enforcava-se, certamente atônito e tomado de remorsos com o papel que o ingrato destino lhe reservara na história da humanidade. Os escritos acham-se conforme descrições bíblicas, lendas e tradições, unificadas pelo autor com Atos 1:18, que descreve Judas a despencar-se ribanceira abaixo e arrebentadas suas entranhas.
De uma maneira ou outra tanto Jesus quanto Judas, morreram conscientes do dever cumprido, naquilo que se propuseram sabedores que um sem o outro nada poderia fazer para o fiel cumprimento das Escrituras.
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9. A versão bíblica samaritana que os biblistas insistem em não ver
Fundamentalmente, tomando-se a versão bíblica samaritana, este é o verdadeiro sentido das ocorrências:
  • Não existiu o ato da traição. 
  • O que houve foi a transposição da história dos samaritanos para os judeus, pela Igreja Primitiva, quando da necessidade de se dar historicidade a Jesus e sua obra de redenção. Os samaritanos - filhos de José - eram os elegidos de Deus, isto é, deles é que sairia o Messias, enquanto Judá [Yuda, o irmão que traiu e vendeu José] era o símbolo do mal, da traição. 
Para entendimento é preciso recorrer ao Antigo Testamento e saber a quem Jacó ungiu para dali sair a vergôntea.
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