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sábado, 3 de abril de 2010

ASSUNTOS SURDINADOS - I

1. A Bíblia - um livro inteiramente de inspiração divina?
Os livros bíblicos canônicos são tidos sagrados pelos cristãos, porque foram escritos pela inspiração do Espírito Santo, ou que o próprio Deus os escreveu através de homens consagrados, embora nunca suficientemente esclarecidos como ocorridos os fenômenos, se alguma espécie de psicografia, direta ou indireta [a clariaudiência], a restar apenas a interpretação em não se tratar de pneumografia [escrita sem intermediário].
Leão XIII foi categórico quanto ao princípio da inerrância bíblica: "de que as divinas escrituras, quais saíram da pena dos autores sagrados, são inteiramente isentas de qualquer erro" (Encíclica Providentíssimus).
O fundamentalismo bíblico determina crer inerrante a bíblia toda, com exatidão em cada detalhe, inclusive tê-la genuinamente inspirada [ditada] por Deus.

1.1. Artigos de afirmação e negação bíblica 
Ainda em 1978 a Declaração de Chicago sobre a Inerrância Bíblica, quando da realização do Concílio Internacional sobre o assunto, assinada pelos principais líderes evangélicos do mundo. São dezenove artigos de afirmação e negação, abaixo reproduzidos, onde se reconhece tão somente a Bíblia como realidade teológica de inspiração divina e, por conseguinte, infalível e inerrante, a se tratar de uma resposta contra os conceitos bíblicos interpretativos de tendência liberal e neo-ortodoxa (http://www.monergismo.com/textos/credos/declaracao_chicago.htm).
-Artigo 1º:
Afirmamos que as Sagradas Escrituras devem ser recebidas como a Palavra oficial de Deus.
-Negamos que a autoridade das Escrituras provenha da Igreja, da tradição ou de qualquer outra fonte humana.
Artigo 2º:
-Afirmamos que as Sagradas Escrituras são a suprema norma escrita, pela qual Deus compele a consciência, e que a autoridade da Igreja está subordinada à das Escrituras.
-Negamos que os credos, concílios ou declarações doutrinárias da Igreja tenham uma autoridade igual ou maior do que a autoridade da Bíblia.
Artigo 3º:
-Afirmamos que a Palavra escrita é, em sua totalidade, revelação dada por Deus.
-Negamos que a Bíblia seja um mero testemunho a respeito da revelação, ou que somente se torne revelação mediante encontro, ou que dependa das reações dos homens para ter validade.
Artigo 4º:
-Afirmamos que Deus, que fez a humanidade à Sua imagem, utilizou a linguagem como um meio de revelação.
-Negamos que a linguagem humana seja limitada pela condição de sermos criaturas, a tal ponto que se apresente imprópria como veículo de revelação divina. Negamos ainda mais que a corrupção, através do pecado, da cultura e linguagem humanas tenha impedido a obra divina de inspiração.
Artigo 5º:
-Afirmamos que a revelação de Deus dentro das Sagradas Escrituras foi progressiva.
-Negamos que revelações posteriores, que podem completar revelações mais antigas, tenham alguma vez corrigido ou contrariado tais revelações. Negamos, ainda mais, que qualquer revelação normativa tenha sido dada desde o término dos escritos do Novo Testamento.
Artigo 6º:
-Afirmamos que a totalidade das Escrituras e todas as suas partes, chegando às próprias palavras do original, foram por inspiração divina.
-Negamos que se possa corretamente falar de inspiração das Escrituras, alcançando-se o todo mas não as partes, ou algumas partes mas não o todo.
Artigo 7º:
-Afirmamos que a inspiração foi a obra em que Deus, por Seu Espírito, atra-vés de escritores humanos, nos deus Sua palavra. A origem das Escrituras é divina. O modo como se deu a inspiração permanece em grande parte um mistério para nós.
-Negamos que se possa reduzir a inspiração à capacidade intuitiva do homem, ou a qualquer tipo de níveis superiores de consciência.
Artigo 8º:
-Afirmamos que Deus, em Sua obra de inspiração, empregou as diferentes personalidades e estilos literários dos escritores que Ele escolheu e preparou.
-Negamos que Deus, ao fazer esses escritores usarem as próprias palavras que Ele escolheu, tenha passado por cima de suas personalidades.
Artigo 9º:
-Afirmamos que a inspiração, embora não outorgando onisciência, garantiu uma expressão verdadeira e fidedigna em todas as questões sobre as quais os autores bíblicos foram levados a falar e a escrever.
-Negamos que a finitude ou a condição caída desses escritores tenha, direta ou indiretamente, introduzido distorção ou falsidade na Palavra de Deus.
Artigo 10º:
-Afirmamos que, estritamente falando, a inspiração diz respeito somente ao texto autográfico das Escrituras, o qual, pela providência de Deus, pode-se determinar com grande exatidão a partir de manuscritos disponíveis. Afirmamos ainda mais que as cópias e traduções das Escrituras são a Palavra de Deus na medida em que fielmente representam o original.
-Negamos que qualquer aspecto essencial da fé cristã seja afetado pela falta dos autógrafos. Negamos ainda mais que essa falta torne inválida ou irrelevante a afirmação da inerrância da Bíblia.
Artigo 11º:
-Afirmamos que as Escrituras, tendo sido dadas por inspiração divina, são in-falíveis, de modo que, longe de nos desorientar, são verdadeiras e confiáveis em todas as questões de que tratam.
-Negamos que seja possível a Bíblia ser, ao mesmo tempo infalível e errônea em suas afirmações. Infalibilidade e inerrância podem ser distinguidas, mas não separadas.
Artigo 12º:
-Afirmamos que, em sua totalidade, as Escrituras são inerrantes, estando isentas de toda falsidade, fraude ou engano.
-Negamos que a infalibilidade e a inerrância da Bíblia estejam limitadas a as-suntos espirituais, religiosos ou redentores, não alcançando informações de natureza histórica e científica. Negamos ainda mais que hipóteses científicas acerca da história da terra possam ser corretamente empregadas para desmentir o ensino das Escrituras a respeito da criação e do dilúvio.
Artigo 13º:
-Afirmamos a propriedade do uso de inerrância como um termo teológico re-ferente à total veracidade das Escrituras.
-Negamos que seja correto avaliar as Escrituras de acordo com padrões de verdade e erro estranhos ao uso ou propósito da Bíblia. Negamos ainda mais que a inerrância seja contestada por fenômenos bíblicos, tais como uma falta de precisão técnica contemporânea, irregularidades de gramática ou ortografia, descrições da natureza feitas com base em observação, referência a falsidades, uso de hipérbole e números arredondados, disposição tópica do material, diferentes seleções de material em relatos paralelos ou uso de citações livres.
Artigo 14º:
-Afirmamos a unidade e a coerência interna das Escrituras.
-Negamos que alegados erros e discrepâncias que ainda não tenham sido solucionados invalidem as declarações da Bíblia quanto à verdade.
Artigo 15º:
-Afirmamos que a doutrina da inerrância está alicerçada no ensino da Bíblia acerca da inspiração.
-Negamos que o ensino de Jesus acerca das Escrituras possa ser desconhecido sob o argumento de adaptação ou de qualquer limitação natural decorrente de Sua humanidade.
Artigo 16º:
-Afirmamos que a doutrina da inerrância tem sido parte integrante da fé da Igreja ao longo de sua história.
-Negamos que a inerrância seja uma doutrina inventada pelo protestantismo escolástico ou que seja uma posição defendida como reação contra a alta crítica negativa.
Artigo 17º:
-Afirmamos que o Espírito Santo dá testemunho acerca das Escrituras, assegurando aos crentes a veracidade da Palavra de Deus escrita.
Negamos que esse testemunho do Espírito Santo opere isoladamente das Escrituras ou em oposição a elas.
Artigo 18º:
-Afirmamos que o texto das Escrituras deve ser interpretado mediante exegese histórico-gramatical, levando em conta suas formas e recursos literários, e que as Escrituras devem interpretar as Escrituras.
-Negamos a legitimidade de qualquer abordagem do texto ou de busca de fontes por trás do texto que conduzam a um revigoramento, desistorização ou minimização de seu ensino, ou a uma rejeição de suas afirmações quanto à autoria.
Artigo 19º:
-Afirmamos que uma confissão da autoridade, infalibilidade e inerrância plenas das Escrituras são vitais para uma correta compreensão da totalidade da fé cristã. Afirmamos ainda mais que tal confissão deve conduzir a uma conformidade cada vez maior à imagem de Cristo.
-Negamos que tal confissão seja necessária para a salvação. Contudo, negamos ainda mais que se possa rejeitar a inerrância sem graves conseqüências, quer para o indivíduo quer para a Igreja.
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2. Da inerrância
A inerrância atesta a infalibilidade bíblica, distinções inseparáveis, por ser a Bíblia a verdade assegurada em livro de Salmos 119: 160, Colossenses 1: 5 e referências. Os fundamentalistas entendem que Deus incita o pensamento original na mente dos seus ungidos e guia as palavras exatas para expressá-lo - Jeremias 1: 7-9, Amós 3:7-8, Êxodo 4:12 e 15, referências atestatórias que pensamento e linguagem [escrita e falada] são divinamente inspirados.
Para os cristãos, em geral, mesmo as traduções bíblicas são isentas de erros e contradições. No entanto o Pontifício Instituto Bíblico de Roma admite, em Textos e Versões (Bíblia Sagrada - Edições Paulinas 1967), que copistas e tradutores bíblicos não tiveram aquela mesma inspiração original, uma ideia de Santo Agostinho em 'Carta 82 número 3 a São Jerônimo'.Nestes considerandos a Bíblia não tem contradições nem erros, vez que Deus não pode enganar-se, ser enganado nem enganar, pois que ele até ilumina a mente do receptor de suas palavras, naturalmente os salvos ou os escolhidos, para compreender potencialmente a mesma verdade como estava originalmente na mente do autor inspirado, pois que outra razão não se pode depreender de I Corintios 2: 12 e referencias, com destaques para Efésios 1: 17-18.
O fundamentalismo bíblico já não é mais unanimidade entre os estudiosos liberais e neo-ortodoxos; mesmo entre os fiéis comuns da nova geração ainda prevalece a inerrância e a infalibilidade bíblica,   sem questionamento, aceitando a Bíblia mais como revelação de fé.
Para a atual maioria dos estudiosos cristãos, das certas alterações, contradições, mutilações e dos erros observáveis, se devem conservar inalteradas tão somente "a substância do depósito da fé contido nos livros sagrados" (PIBR).
De nossa parte entendemos, a exemplo de alguns outros estudiosos, que a Bíblia é originada de fontes diversas, das lendas tomadas e adaptadas de outros povos para a cultura hebreia e as crônicas de seus reis, registros de documentos e atos religiosos, transcrições de tradições escritas ou orais, adequadas conforme circunstâncias, vindas através dos tempos e editadas por escribas independentes e de ideologias próprias, ou no cumprimento de ordens, algumas vezes sob coações político-religiosas.
Se o escritor de II Timóteo 3: 16 assegura-nos que toda a escritura "é inspirada por Deus", em I Corintios 7: 6 e II Corintios 11: 17 o autor ou os autores confessa [m] o uso de palavras próprias e não de inspiração divina.
Desde as primeiras traduções bíblicas que se tem notícia - cânon judaico, e isto não incluem os livros do Novo Testamento, no decorrer dos tempos suas cópias foram significativamente adaptadas para melhores entendimentos daquilo que lhes pareciam ilógicas ou vocábulos em desuso, além de correções ou acréscimos arbitrários, e aí se perdeu a originalidade. Não raramente copistas colocavam comentários como se fossem textos originais, ou então suprimiam palavras ou frases inteiras para se distinguir das religiões estrangeiras.
Alguns trechos foram retirados ou modificados em causa da evolução do 'Sló' Yavé, que deixa de ser deus tribal para, aos poucos, tornar-se deus dos deuses – monolatria e, enfim, chegar à condição monoteísta e universal – deus único. Então se excluem ídolos, alguns deuses se tornam demônios, escritos servem ou são acrescidos enquanto outros não mais se encaixam dentro da ética monoteísta.
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3. Escrituras nada originais 
"Ora o Senhor disse a Abraão: sai da tua terra, da tua pátria e da tua casa paterna e vai para a região que eu te mostrarei. Farei de ti uma grande nação e te abençoarei, engrandecerei o teu nome, e serás uma benção. Abençoarei a quem te abençoar e amaldiçoarei a quem te amaldiçoar, e por ti serão benditas todas as nações da terra" (Gênesis 12: 1-3).
Estas palavras de um deus à Abraão não mais soam uma promessa, antes sim a necessidade urgente do patriarca colocar-se à salvo juntamente com sua tribo, para os lados da Palestina.
Não sabemos como referida divindade falou a Abraão, no entanto sabemos que Abraão era da cidade de Ur, na Caldeia, e tal manifestação teria ocorrido por volta de 1825 AEC, posto Abraão nascido setenta e cinco anos antes, seguindo ordem cronológica bíblica a remontar acontecimentos ao longo dos séculos, a partir do êxodo promovido por Moisés, ou seja, a saída dos hebreus da terra do Egito, então sob reinado de Menefta, em 1200 AEC.
Para a história o povo hebreu surgiu daquele Abrão [depois Abraão], originário de Ur da Caldéia, situada na antiga Suméria, região sul da Mesopotâmia. A nação judaica ocorreu tão somente após a revelação divina a Moisés no Monte Sinai, quando as doze tribos unidas por um código de leis morais e espirituais, embora o judaísmo religioso somente assim conhecido após o retorno do exílio babilônico [538 AEC].
Mas nada é consenso. Por volta de 1900 AEC teria chegado o povo Amorita, do deserto da Arábia, para dominar a Mesopotâmia e fundar a cidade de Babilônia; e, em geral, os historiadores apontam Abraão ainda na Mesopotâmia quando da chegada do povo Amorita - chamado de velhos babilônios, para sangrenta conquista e o efetivo domínio somente com o reinado de Hamurabi, a partir de 1728 AEC, época da invasão e tomada final de Ur, razão que levou as tribos de Abraão e Ló rumo à Palestina.
Para outros a tribo semítica dos Ibr'im [Ibr'is], de onde Abrão [Abraão], deixa Ur em causa da dominação bárbara dos Guti que, no final de 2200, invadiram e destruíram o então Império Acádio, o sucessor imediato da Civilização Sumeriana. É conhecido que os semitas acadianos jamais conquistaram todo o Império Sumer, com dificuldades de governo sobre antigas cidades-estado constantemente revoltosas, evidentes causas de enfraquecimentos e queda diante dos Guti.
Nestas situações certas tribos semitas deixaram a região mesopotâmica, ou expulsas pelos Guti, ou para não envolvimento nas graves guerras civis. Tal migração pode ser vista como a primeira libertação do hebreu.
Se dos tempos dos Guti ou do povo Amorita, pois nada se sabe dos quase trezentos anos entre uma dominação e outra, a verdade é que pelo menos duas tribos semitas deixaram Ur, com destino à Palestina, para se defrontarem com povos lá anteriormente estabelecidos e, cem anos depois, radicar-se efetivamente, após passagens pelas terras do Egito segundo historiadores e textos bíblicos.
Por essa época, antes da fixação na Palestina, os hebreus como nômades pelas regi-ões, tiveram contatos com outros povos, mútuas influências, em especial atenção à tribo egípcia Agar [Agarab - Arab] para surgimento dos árabes ismaelita (Gênesis 25: 11) que ganhou independência dos hebreus para construir sua própria história.
Somente a partir da radicação na Palestina começa a nos interessar a história dos hebreus, um povo formado por conflitos e com os quais convive até os dias atuais.
Por Gênesis 14:13 temos a primeira identificação de Abraão como "Ibris - o Hebreu", com possibilidades interpretativas que seja "Ibris" povo de além do rio [Eufrates], conhecido como Hebreu, para uns porque descendentes de Heber.
Certas correntes interpretativas apontam em Heber as corruptelas Haber e Habiro que se transformariam em Abirão e, finalmente Abrão antes de Abraão. No entanto, numa consulta mais acurada, em Gênesis 10: 21-25 temos Heber - Eber, filho de Sala, neto de Arfaxad que era filho de Sem o primogênito de Noé. Gênesis 11: 10-27 identifica Abraão descendente direto de Heber, portanto semita.
O verso 31 de Gênesis 11 informa-nos que foi Taré, pai de Abraão, quem deixou a Ur dos Caldeus, com toda sua parentela, inclusive Abraão [ainda Abrão] e Ló – posto sobrinho de Taré quando na verdade seria neto, pois que era filho de Aram [falecido]. O outro filho de Taré foi Nakor.
Ainda por Gênesis a tribo de Taré fixou-se por uns tempos em Haram, na Mesopotâmia aonde veio a falecer o patriarca. Foi então que Abraão, o primogênito, saiu com Ló para migração às margens do Mar Vermelho e às fronteiras do Egito.
Abraão trouxe de Ur uma gama de valores, tradições e formas de crenças com fortes influências na formação étnica, cultural e religiosa de seus descendentes, muitas dessas crendices mais tarde ainda presentes no judaísmo, por exemplo, o sacrifício de um animal a Deus (Gênesis 22: 13). Outro exemplo mesopotâmico foi a tradição formadora do universo Eloísta, com a terra e tudo que nela há, numa admirável e ordenada seqüência lógica dos surgimentos, bastante aos moldes da Ciência.
Excluída a saga abraâmica e seus vínculos familiares, entendemos por Josué 24:2 que Abraão realmente tinha a crença idólatra comum à sua parentela, "servindo outros deuses". Mais tarde o neto Jacó, numa estadia forçada na Mesopotâmia junto aos parentes, uniu-se a uma mulher arameia que, ao acompanhá-lo de volta à Palestina, carregou consigo os ídolos do pai, os terafins [teraphim] - espécie de gênios protetores ou deuses tutelares. O próprio deus de Jacó era cognominado o 'Temido de Isaac', a quem Jacó erigiu a Coluna de Betel [Gênesis 28:18], uma prática votiva mesopotâmica.
Gênesis 31: 42 mostra-nos clara distinção entre o Deus de Isaac e o Temido de Isaac, conforme o próprio Jacó confabulou ao sogro Labão: "Se os deuses do meu pai [Isaac], os deuses de Abraão [seu avô] e o Temido de Isaac [pai]...", ocorrência que evidencia este Temido distinto dos demais deuses.
A popularização dos terafins fez com que rei Josias, em sua reforma religiosa, viesse exterminar não só os nigromantes e adivinhos, bem como por abaixo todos os ídolos, inclusive os terafins, venerados pelos hebreus - II Reis 23:24. A continuidade dos terafins em ritos e cultos evidencia que, em verdade, Josias apenas os tirou da banalização para uso exclusivo dos iniciados – sacerdotes, profetas ou ungidos.
Juízes 17: 5 e Oseias 3: 4 esclarecem que os terafins eram objetos sagrados de cultos judaicos, ao lado dos éfodes [espécie de antigos ídolos, também o nome de avental com bolsas, de sacerdotal nos cultos]. Assim postos, os terafins não mais seriam de uso popular.
Ezequiel 21: 23 e seguintes, versão Pontifício Instituto Bíblico de Roma, ou 21: 18 e sequências [Novo Mundo das Escrituras e Almeida], dá-nos uma ideia dos cultos de passagens e consultas, pelo profeta, através dos terafins:
"E continuou a vir e haver para mim a palavra de Jeová dizendo: e quanto a ti, ó filho do homem, estabelece para ti dois caminhos para a entrada da espada do rei de Babilônia. Ambos devem, proceder do mesmo país e deve-se recortar uma mão [indicadora]; deve ser recortada a cabeceira do caminho para a cidade. Deves estabelecer um caminho para a espada entrar contra Rabá dos filhos de Amon e [o outro] contra Judá, contra a fortificada Jerusalém. Porque o rei da Babilônia parou na encruzilhada, na cabeceira dos dois caminhos para recorrer à adivinhação. Sacudiu as flechas. Indagou por meio dos terafins, examinou o fígado. Na sua direita mostrou-se haver a adivinhação referente a Jerusalém (...)".
Não eram práticas originais do judaísmo e sim influências herdadas e trazidas por Abraão da Mesopotâmia, a exemplos, também, dos Urim e Tumim - pedras para consultas oraculares, cujos diálogos eram através de perguntas e respostas, maneira direta do indivíduo [consulente] dirigir-se a Deus através de uma pessoa consagrada para aquelas funções.
As andanças dos hebreus pelas terras da Palestina e do Egito forneceram acréscimos adaptativos, de outras lendas que foram assimiladas e interpoladas para a história futura de Israel. Dos palestinos absorveram os costumes, os deuses locais - baal’s e as formas naturistas de cultos; do Egito emprestou o sistema literário, a exemplos da música e poesia, as crenças no além-túmulo, a ordem religiosa [casta sacerdotal], as práticas curativas ou médicas, as iniciações, os ritos de passagens e as artes mágicas.
A historicidade do povo hebreu, a partir de Abraão até o século VII AEC, indiscutivelmente fundamenta-se em lendas adquiridas de outras culturas, das terras por onde passou, ganhando características próprias somadas às novas experiências. O desordenado Gênesis Yaveísta, onde o aparecimento do homem antecede os vegetais, foi influenciado pelas tradições palestínicas; enquanto a circuncisão é egípcia, assim como o sistema de higiene e saneamento, além das proibições de comer a carne de suínos e outros animais e aves.
As duas criações bíblicas são discordantes entre si, a primeira politeísta [Elohim], a segunda de prosa mais simples é monolátrica -Yavé, que é o deus dos deuses, uma divindade evoluída do tribalismo nômade hebreu.
Outras regiões influenciadas pelas culturas mesopotâmicas, cujas lendas sobre as origens foram tomadas de empréstimo, futuramente seriam insertas na história dos hebreus; consoante exemplo já dado, no primeiro capitulo de Gênesis ao 2:3, a criação desenvolve-se sob a fartura de águas mesopotâmicas, enquanto a criação seguinte [Yaveísta], a partir do versículo 4 do mesmo capítulo, Gênesis 2, se desenvolve na aridez palestínica.
O primeiro casal num jardim paradisíaco, criação Yaveísta, sugere a formação de uma nação, pretensamente escolhida por uma divindade, advinda de dois povos que conviviam numa região determinada. A formação do homem, aos moldes bíblicos, tem similar na cultura sumero-acadiana, a caber lembranças que os acádios eram semitas.
Adam (Adima) – terra vermelha ou barro – como designativo de origem, unindo a is’ (Adamis) determina o homem da terra vermelha ou que veio (local de origem) de um lugar onde a terra é vermelha.
À primeira vista, considerando que os gregos denominavam os fenícios de vermelho (phoinos), poderia se concluir que Adão [tribo] fosse originário daquele povo ou o próprio. No entanto se pode entender Adão já dentro de um contexto histórico formado, que antecede aos fenícios, e que foi colocado numa terra preparada para ele, isto é, que tomou, conquistou, pela vontade dos deuses, uma região. Posteriormente os hebreus viriam fazer o mesmo com invasões às terras palestinas – Gênesis 12 e Êxodo 3, exemplificando linguagem bíblica.
Nestas circunstâncias, identifica-se Adão como Adapa, o herói sumero-babilônico – personagens por demais semelhantes, e, assim sendo, Adão seria a representação do povo sumeriano na região da Mesopotâmia, com uma língua incomum aos demais povos da regi-ão, mas muito próxima ao drávido, na Índia, então seu local étnico. A palavra dravídica Adimá tem o mesmo significado que seus correspondentes sumero-babilônico e hebraico, sendo um nome genérico regional.
Este povo chegou para conquistar uma região habitada por uma tribo, ramo egípcio, denominada Exa [Xex] que, conquistada, tornou-se Heva-Kin [Hevakin] - conforme atesta vocabulário e gramática do antigo drávida, inseridos no sânscrito para significar união ou que veio a unir-se, termo depois simplificado para Heva, como oferenda sacrifical ou dação, quando Deus passou a tomar o homem [tribo adâmica] e a estabelecê-lo na terra conquistada, [Jardim do Éden] para que cultivasse e tomasse conta dele - Gênesis 2: 15 subjugando Heva [Eva], ou a ela se unindo.
Com referência ao Éden (campo fértil ou planície, na língua sumer), jamais foi aceito qualquer referência que pudesse localizá-lo geograficamente na Armênia, entre os rios Tigre e Eufrates, talvez em razão das citações também dos rios Gion, da terra de Cush, e Fison em Hevilá, para os quais a Bíblia menciona duas localidades distintas, sendo uma africana e outra asiática, conforme progênie em Gênesis 10:7-8 e 29.
É possível, a isto, que a região conquistada fora cognominada Éden em memória a um outro lugar, de onde vieram aqueles de Adão, e que os sumerianos incorporaram em suas lendas.
Desconsiderando estudos que trazem o Éden apenas como algo espiritual (Paraíso), cabem referências ao local como possessão fenícia, por citação bíblica em Ezequiel 28: l3-l4, versos seguintes e anteriores, porem sem precisar onde de fato localizar o local paradisíaco.
A história Caim e Abel tem correspondentes em duas lendas representativas:
  • Tradição semita acadiana informa o antigo povo hebreu autóctone das planícies da Mesopotâmia, nômades entre os rios Eufrates e Tigre, a partir das montanhas da Armênia às águas do Golfo Pérsico, fértil território conquistado posteriormente pelos sumerianos que os obrigou ao sedentarismo escravo, até que beneficiários da Cultura dos Árias invasores, povos nômades das estepes asiáticas, que deu surgimento à lenda de Caim que matou [o que significa que deteve] Abel, o nômade ária invasor. Realmente nos relatos bíblicos a simpatia por Abel é evidente, pois que os semitas da época eram dominados pelos sumérios.
  • Uma lenda babilônica, mais recente que a sumer, diz dos irmãos Emesh e Enten, símbolos das estações verão e primavera – respectivamente, que se desentende-ram em causa de Emesh sentir rejeitada sua oferta [sacrifício de animais] ao deus Enlil enquanto apreciada as frutas depositadas pelo irmão Enten; e a lenda termina em assassinato.
Mas, as histórias e lendas se misturam com outras culturas, e a vida do homem no paraíso, a queda, a condenação e a expulsão, de acordo com Gênesis 3: 14-24, tem similar assírio e faz parte de antigas tradições egípcias. A decadência do gênero humano, o dilúvio e a salvação pela arca – Gênesis, capítulos 6 aos 9, são transcrições sumero-babilônicas e já evidenciam a necessidade de um intermediário, ou redentor, entre o homem pecador a divindade absoluta. Noé foi esse redentor em sua época; também Abraão encarnou esta figura, depois Moisés e, entre outros, finalmente o Cristo.
A esperança da vinda deste redentor, numa expectativa messiânica libertadora, é de origem sumeriana e já adaptada por Hamurabi – quando do Império Babilônico, sobre a qual, sem dúvidas, fundamentou-se o autor da Gênesis Eloísta.
A Torre de Babel e todas suas ocorrências são cópias ajustadas de elementos cultu-rais babilônicos – Gênesis 11, porém, a partir do capítulo 12 predomina a influência egípcia, inclusive a história de José a abranger desde o capítulo 37 aos 50 de Gênesis, com representatividades paralelas em monumentos egípcios. O paraíso terrestre, bem depois acrescido, tem um conjunto de padrões históricos fundamentados nos fenícios e suas ligações com os egípcios.
Outros traços comuns identificam o Gênesis com tradições sumero-babilônicas, ainda no tocante a história primitiva cujos onze primeiros capítulos, com algumas interpolações deliberadas, se podem dizer diferentes, porém similares, tanto que impossível não remetê-la para uma origem comum, no caso a Bíblia uma transcrição pouco modificada daqueles escritos muito mais antigos..
Notória citação o caso dos dez reis da tradição babilônica, representados pelos dez patriarcas bíblicos [Gênesis 5], todos antediluvianos em suas respectivas culturas, e igualmente de existência longeva. Outra notória relação, o dilúvio bíblico tem muito em comum com a narrativa babilônica do mesmo fenômeno, cujas coincidências comprovam a origem mitológica comum e a presença dos arquétipos coletivos, nas passagens supostamente históricas da Bíblia, sem dúvidas extraídas das aventuras de Gilgamesh.
A longevidade dos antigos nomes bíblicos indica coletividade tribal pelo período de domínio ou hegemonia, somente vindo desaparecer quando conquistado ou que se lhe apaguem os vestígios do patriarca. Luiz Thayer Ojeda - renomado estudioso chileno citado por Alexandre Braghine em o Enigma de Atlântida, esclarece: "(...) os nomes dos patriarcas bíblicos ou quaisquer outras lendas, em sua maioria, significam nomes de nações [povos] em que a duração de suas vidas indicam o tempo / duração que mantiveram sua independência".
Por Ojeda igualmente se entende "que vindo de algum lugar" significa tornar-se independente; "desposando" o mesmo que conquistar; "gerando filhos" o avanço de províncias com governos autônomos quando nominados; e finalmente "filhas" como possessões menores obtidas através de conquistas, acordos ou concessões, algumas vezes como região tutelada. A tese de Ojeda corrobora Gênesis 5: 10-11; 11: 10-32; e referências.
São entradas culturais trazidas pelos semitas que deixaram a Caldéia para desenvolver suas próprias tradições, destacados como tribo de Abraão, nominação individual para designação coletiva, por Abrão que lá na Caldeia tinha o significado de pai, chefe de família ou clã, hebraizado Abraão – pai de multidão, tribos ou raça.
Abraão também importou deuses maiores da sua antiga pátria. Os deuses Yavé [dos judeus] e Marduk [dos babilônios] são semelhantes, não sendo a princípio divindades absolutas, todavia evoluindo para suplantação sobre os demais deuses – o deus dos deuses. Ambos são antropomórficos, animados e totêmicos em suas origens, sempre metidos em duelos com o deus mal, e fazem exigências ao seu povo, são vingativos, pedem sacrifícios e perdoam através de expiações impostas; da Mesopotâmia, também foi o rito da expiação.
As evoluções dos cultos hebraicos aconteceram, sempre, no rastro das evoluções de outros povos com quem mantiveram contatos de alguma maneira. O deus Yavé se fortaleceu com acréscimos culturais de povos diversos, sendo forte contribuição a estadia de Jacó à Mesopotâmia, por uns tempos, e de lá retornou com sua prole, carregado de novidades de cultos daquela região.
Também a estadia das tribos de Israel no Egito, por mais ou menos quatrocentos anos, foi altamente significativa para a efetivação do sistema religioso hebraico / judeu nas formas que conhecemos. A presença de hebreus subjugados em terras egípcias é verdade histórica, mas nada dizem os egípcios a respeito ao libertador Moisés, uma figura muito mais próxima das tradições assírias.
A própria perambulação dos hebreus por tanto tempo no deserto, seiscentos mil homens a pé ou algo em torno a três milhões de pessoas que saíram do Egito, é posta em dúvidas, afinal tantas décadas passadas em regiões descritas com tanta precisão e nenhum resto arqueológico a lhes atestar presenças.
Moisés tem analogias com Sargon I, o rei da Assíria, ambos colocados em cesto sobre as águas, são igualmente resgatados e criados, tem missões correspondentes, embora Sargon seja consagrado rei enquanto Moisés líder do seu povo. São situações por demais próximas que, para muitos, não é impossível Moisés ser apenas figura lendária,, uma cópia que Israel formou quando sob domínio assírio.
Mas é com os babilônios que melhor se entendem o hebreu quanto a Yavé, o seu deus maior que, à maneira e semelhança de Marduk, traz a proposta redentora para o seu povo através do próprio deus encarnado [nascido] homem, mística da qual mais tarde se valeriam os cristãos para trazer Jesus à terra, fruto das relações de Yavé com uma virgem hebreia, sendo esse Jesus uma versão moderna de Tamuz [Dummuzi], o redentor babilônico, filho de Marduk [um deus único] com uma virgem chamada de Estrela Matutina, posteriormente feita deusa venerada e assunta aos céus, tal qual Maria mãe de Jesus. 
A mãe de Tamuz, semelhante à mãe de Jesus – por apócrifos, foi entregue ao templo, ainda jovem.
São muitos os paralelos entre Jesus e Tamuz; eles entram triunfalmente numa cidade santa, seus seguidores participam de uma conturbação à ordem, principiada por eles que então se refugiam e são traídos por um dos seus, sendo presos e flagelados, julgados culpados e condenados a morrer ao lado de dois condenados, enquanto um quarto elemento foi solto em lugar dele, a pedido do povo. Ambos têm morte sacrificial depois de prometer a morada celeste a um dos condenados, onde estariam juntos.
Tamuz, igual a Cristo, também ressuscita, seu sepulcro é encontrado vazio, ele desce aos infernos, peregrina na terra por uns tempos, surge aos seus e depois é elevado aos céus, deixando um espírito orientador e consolador aos seus seguidores, com a promessa de retorno e a efetiva instauração de um novo reino.
As similitudes entre Tamuz e Jesus são inegáveis, inclusive no quadro da paixão, naquilo que nos descreve Félicien Challaye, Pequena História das Grandes Religiões, às páginas 133 onde cita e transcreve Denis Saurat sobre a divina paixão de Tamuz.
Antes do surgimento cristão a figura de Tamuz fora incorporada às tradições hebrai-cas, durante o cativeiro na Babilônia, mais tardiamente adaptado e revestido de caráter messiânico libertador para o povo, a consumar-se em Jesus pelas tradições cristãs. Jesus e Tamuz são chamados filho do homem, pastor e senhor.
Ezequiel 8: 14 mostra-nos a popularidade de Tamuz no judaísmo, tanto que, na porta do templo [mês de julho de cada ano] as mulheres judias choravam Tamuz, num rito alusivo a sua descida ao Hades [Inferno] para libertar os cativos, muito semelhante ao Cristo que desceu às regiões inferiores da terra para pregar aos espíritos em prisão (I Pedro 3: 18-19), vez que "(...) foi pregado o Evangelho também aos mortos; para que, na verdade, fossem julgados segundo os homens na carne, mas vivessem segundo Deus em espírito" (I Pedro 4: 6), certamente as únicas justificativas para o incrível relato em Mateus 27: 52-53, por ocasião [momento] da morte de Jesus, quando se abriram os túmulos e muitos dos santos, que estavam mortos, ressuscitaram.
Mas, tal qual Jesus, Tamuz não é nada original, senão um messias acrescido de outras necessidades de sua época, e que se fundamenta em heróis anteriores. Parece um tanto na Mesopotâmia, num reino então subjugado - o mesmo que castigado pelos deuses ou por deus, que impõe castigos ao povo infiel, para criar uma figura libertadora saída das classes religiosas, sendo o povo mantido unido em torno desta figura, ou diante da promessa do ungido, que seria o próprio deus encarnado homem.
Nada, portanto, original; mas o que elevou o judaísmo a uma posição religiosa tão especial foram suas andanças por terras estrangeiras, com a alta capacidade de absorções dos cultos e lendas para dar-lhes manto aparente de originalidade histórica, sabendo evoluir seus deuses, mitos e crendices, talvez pela razão de ser povo adaptável ao meio e costumes.
Sendo realidade que por tantos séculos os hebreus viveram em zonas de influências sumeriana, acadiana, egípcia, palestínica, babilônica, persa e medo-persa, além das mais recentes, grega e romana, justo a compreensão que os hebreus jamais desenvolveram culturas próprias, ficando devedor aos estrangeiros nas artes e na indústria, na escrita, na língua e literatura.
Portanto, foi nesta ausência de originalidade e independência de civilização material, que se sobrepôs em maior relevo o valor das instituições religiosas e morais dos hebreus, como elementos básicos de sua união por só um código de leis morais e espirituais.
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4. Dos cânones distintos
No século IX ou X se iniciou entre os hebreus um sistema de escrita consonantal, isto é, ausente de vogais, conforme o Calendário de Geser, a inscrição hebraica mais antiga já encontrada. Depois disto se pode dizer, por citações mais recentes, de antigos textos isolados de confusas lendas e ações heroicas dos antepassados, que foram dando cunho às primeiras passagens bíblicas, prevalecendo os textos Elohísta e Yaveísta do princípio dos tempos e a formação do mundo com a criação do homem e da natureza. As vogais, somente inseridas ao alfabeto hebraico no século VIII EC.
Já no século VIII AEC surgiram textos deuteronomistas, ou seja, uma segunda lei em complemento à primeira, qual seja, a união de códigos de tradição oral e depois escrito, os quais regravam as tribos hebreias.
No século VI AEC os Sacerdotes redigiram os Levíticos e deram contornos aos de-mais livros existentes, para texto religioso único, com justaposições das variadas tradições orais.
Somente no século V e início do IV AEC, pode se agrupar rol de livros em língua hebraica que iriam nortear o monoteísmo, num clássico momento que os hebreus deixam as lendas para fazer sua história. No ano 150 AEC todos os livros religiosos em hebraico foram traduzidos para o grego, pelos setenta colaboradores – por isso Versão Septuaginta, inicialmente para os judeus do Egito e logo adotado por todos judeanos, porque raras eram as pessoas que ainda entendiam o idioma original.
Com as traduções se foram os originais bíblicos, excetos fragmentos de cópias isolados, descobertos mais recentemente, entre os famosos Manuscritos do Mar Morto. "Nenhum manuscrito original da Bíblia hebraica foi conservado", conforme Félicien Challaye às páginas 141 de sua Pequena História das Grandes Religiões - IBRASA, 2ª. edição 1967.
Yavé fez-se a síntese de um deus maior formado de outras divindades, um deus protetor que jamais abandona seu povo, vinga os inimigos, ganha as guerras, exigindo para isto a fidelidade e sacrifício de seu povo, através de rígidas regras. Yavé, no entanto, abandona e pune seu povo, por uma falta simples que seja, deixando-o inclusive à mercê do inimigo, para então lhe oferecer libertação.
Toda a mística judaica se encerra nessa submissão integral à vontade de Yavé e, em vista disso, uma religião de esperança e confiança no livramento final, porque sempre nação dominada por estrangeiros.
Natural que os hebreus, diante de tantas andanças por terras estranhas, ou domina-ções estrangeiras, tenham adotado diferentes formas religiosas para fundi-las, naquilo que de melhor, para apresentá-la como originalmente sua, igualmente por tais motivos as tantas contradições entre autores diversos, razões de tantos textos transformados por interpolações divergentes. Escreveram o fundamento de sua religião como normas diretivas, regras de condutas e elementos de fé, como ação investida com autoridade divina, documento essencial sobre o Judaísmo a partir da união das tribos numa só nação e um só Deus.
A Bíblia atual é formada por livros considerados, por judeus e cristãos, sagrados e inspirados. Apesar de judeus e cristãos admitirem o mesmo Deus e ter sido ele a inspiração única dos textos sacros, existem, no entanto, três cânones distintos, o judaico, o católico e o cristão protestante.
Em tempos antigos o cânon judaico não era fixo, até em razão de sua formação, com acréscimo de novos textos ou subtração de outros conforme situação política dominante. Disto, no entanto, já era assegurada a tríade canônica composta pelos livros: a Torah [Tora – Lei], os Nevi’im {Nebilim – [Profetas] e os Kethuv’im [Ketubim – Hagiógrafos – Escritos Sagrados], de cujas iniciais se obtinha o consonantal TNK – [pronúncia aproximada a TaNaKh], conforme conhecido o primitivo cânon judaico.
  • A Tora composta de cinco livros [Pentateuco], ou sejam, Gênesis, Êxodo Levítico, Números e Deuteronômio.
  • Os Nebilim [Profetas], oito livros em duas partes de quatro, assim definidos:
    • Antigos [Anteriores] - Josué, Juízes, Samuel e Reis;
    • Posteriores - Isaias, Jeremias, Ezequiel e os doze profetas menores, de Oséias a Malaquias, num só livro.
  • Os Ketubim [Hagiógrafos], onze livros em três partes, abrangiam:
    • Poéticos - três livros: Salmos, Provérbios e Jó, com validação histórica variável para o livro Eclesiástico.
    • Megilotes [Rolos] – cinco livros, a saber: Cântico dos Cânticos, Rute, Lamentações, Eclesiastes e Ester.
    • Históricos - três livros: Crônicas, Daniel e Esdras-Neemias quando então um só livro.
A formação canônica judaica já estava assim no século II AEC, embora não plenamente aceita para todos os judeus, então divididos entre os fixados na Palestina, os puristas, e aqueles dispersos no mundo greco-romano. Nesta época os livros já estavam todos vertidos para o grego, em razão do hebraico em desuso oficial desde os 430/420 AEC.
O hebraico foi primeiramente substituído pelo aramaico, trazido para a Pales-tina pelos assírios depois de terem vencido o reino [as dez tribos do norte] de Israel em 721/719 AEC, trocando pessoas e as espalhando por todo o seu império, por isso posto o aramaico como a língua de entendimento. O reino de Judá [as duas tribos do sul], somente cativa em 614 AEC, nas mãos dos babilônios, retornou em 537 AEC falando aramaico, com dificuldades para entender o hebraico, como inferido de Neemias 8:1-3 e 8, então reservado para os cultos religiosos.
Partes dos judeus separados de suas origens, com continuidade histórica diferente dos palestínicos, aceitavam tanto os livros traduzidos do hebraico para o grego quanto os escritos originalmente em língua grega, como Tobias, Judite, Macabeus [I e II], Sabedoria, Eclesiástico [ou parte dele], Baruc, Carta de Jeremias, além de alguns suplementos a Ester e Daniel; um sacrilégio para os puristas. Estes livros foram designados Deuterocanônicos, ou seja, um segundo Cânon, porque não constam do Cânon Hebraico de Jerusalém.
Outra dificuldade em se fechar o cânon judaico, mesmo entre os puristas, ocorria por motivos opiniáticos, por exemplos, o livro Ester era vetado por não constar nele o nome de Deus, Cantares pela pornografia poética, o Eclesiastes pelo exagerado pessimismo e Provérbios porque trazia textos apócrifos e outros de autores desconhecidos.
Nos anos 50 AEC estas condenações seriam abraçadas pela escola rabínica Shammai [50 AEC a +/- 30 EC], chamada rigorista, em oposição à outra escola rabínica Hillel [cerca de 60 AEC a 9 EC], de tendência liberal.
A definição canônica hebraica viria ocorrer apenas no ano 90 EC, conforme o conhecemos hoje, definido pelo Concílio de Jânia, quando o Antigo Testamento já estava nova-mente vertido para o hebraico, versão massorética – consonantal, com a compilação oficial em Jerusalém, por isso a denominação Cânon Judaico de Jerusalém.
Nenhum autógrafo [original] bíblico chegou até nossos dias, senão códices ou fragmentos de antigos manuscritos. O Antigo Testamento ou os textos sagrados dos judeus, sem dúvidas partiram da Versão Septuaginta, o mencionado trabalho dos setenta que traduziram os livros religiosos do hebraico para o grego. Se indiscutíveis os valores da Septuaginta, no entanto ela perdeu sua vocação judaizante, quando enriquecida com os elementos gregos dominantes, ou sejam, o pensamento platônico, a lógica aristotélica e a ciência euclidiana.
Quando os judeus resgataram o hebraico para suas escrituras, vindas da Septuaginta sem os deuterocanônicos, já não se sabiam mais das místicas dos primeiros tempos, sem a consideração que um novo elemento agora era o dominador, e muito mais cruel, os romanos, a quem os sábios judeus deviam uma nova expressão religiosa por questão de sobrevivência nacional, ainda que sem pátria.
A Igreja Cristã [primitiva], evoluída da Seita greco-judaica Messianista, aceitou co-mo inspirado o Cânon Judaico acrescido dos livros Deuterocanônicos, portanto a Septuaginta integral, até como forma de se destacar do judaísmo e se vincular à seita dos Nazarenos para, assim, fazer uma doutrina recente tornar-se antiga, uma versão sobre a qual se fundamentou o credo Católico Apostólico Romano, que se tornou seita predominante do Cristianismo.
Emergido do manto cultural greco-romano e síntese do misticismo judeu, os Messianistas eram os membros de uma seita greco-judaica, de certa forma sequência dos Nazarenos, centrados na figura de um Cristo ideal. Somente mais tarde seriam denominados cristãos os seguidores de Jesus, um designativo antes reservado aos sectários de João Batista, absorvidos pelos Messianistas ao longo da história e que até o nome lhes subtraiu. Mas isto não importa aqui.
No princípio o Cânon Neotestamentário também não foi unanimidade em suas origens, alguns livros não eram admitidos em todas as Igrejas, por exemplos, Carta aos Hebreus, Tiago, II Pedro, II e III de João, Judas e o Apocalipse; aos quais se aplicou da mesma forma, a designação de deuterocanônicos antes de inseridos no cânon oficial, conforme menções vistas em Línguas Originais e Cânones Diversos, Introdução Bíblia Sagrada, edições Paulinas, 1967, pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma.
Num futuro, os reformistas Protestantes viriam excluir os Deuterocanônicos apenas do Antigo Testamento, por não considerá-los partes do Cânon Judaico de Jerusalém; livros que os Católicos mantém ainda hoje em suas versões bíblicas.
Não se conhecem escritos originais da Igreja Cristã primitiva, sendo correta que sua literatura sagrada se formou, apenas, entre os séculos II e IV EC. Nem suas regras [cânones] obedeceram a um rigor divino único para sua oficialização, da forma que hoje a conhecemos, bem distinguida em capítulos e versículos, que muitos acreditam, também determinados por Deus.
As divisões bíblicas não estavam presentes no cânon judaico, quando os livros bíblicos eram dispostos apenas por autores, posteriormente por assuntos - os Sedarins. A primeira divisão neotestamentária por seções aconteceu no Códice Vaticano escrito em grego entre 325 a 350 EC, um Uncial [escrita maiúscula latina] vertido da septuaginta - exceto a Oração de Manasses e Macabeus. A tradução Vulgata surgiu deste Códice.
No Códice Vaticano, Mateus tem 170 seções, Marcos 62, Lucas 152, João 50 e Atos 36. Encontrado apenas no ano de 1475, quando da primeira catalogação dos livros da Biblioteca do Vaticano, sua originalidade para a época é posta em dúvida.
O Códice Efraimita, originário de Alexandria - Egito, de estilo bizantino datado de 345 [EC], foi encontrado num palimpsesto do século XII onde obras do sírio Efraim. Recuperado a cópia original por Tischendorf, surgiram os dois testamentos bíblicos, apenas porções de livros bíblicos, em 209 'folhas', em seções, sendo 145 do Novo Testamento e assim publicados em 1845.
O Uncial Códice Sinaítico - também chamado Alef, encontrado em 1859 no mosteiro Santa Catarina, no Monte Sinai, escrito em grego, datado do Século IV, dividido em assuntos. Entre o Sinaítico e o Código Vaticano existem notáveis diferenças, por exemplo, o Sinaítico não apresenta a parte, hoje versículo 25 do capítulo 21 do Evangelho de João. Outra famosa diferença é o encerramento do evangelho de Marcos, onde o Sinaítico se finda no verso 8, e Códice Latino no versículo 20.
O Código Sinaítico, apesar da originalidade, não teve copistas fiéis, tanto que Tischendorf, o seu 'descobridor', teria contado posteriormente 14.800 alterações diferentes dos originais, feitas por nove tradutores. Um copista do Códice Sinaítico, Ebernard Nestlé, admitiu haver mudado o estilo aristotélico platônico para o grego koinê.
O Códice Alexandrino [Uncial], do século V, tem suas divisões em grandes e pequenas seções, colocadas 68 para Mateus, 48 para Marcos, 83 para Lucas e 18 destinadas a João. Este Códice é chamado o Códice da Cultura Cristã, exceto para o Catolicismo, porque dele se originam as principais traduções bíblicas. Apontam-no fidelíssimo a um arquétipo do século II EC, conforme fragmentos encontrados, e não traz o Tetragrama Divino, substituído pelo grego Kýrios – Senhor.
As divisões dos textos neste Códice se assemelham ao sistema encontrado no Cânone de Eusébio.
São muitos os Códices bíblicos, por exemplo, o Beza, um Uncial do século V, escrito em grego e latim, o mais antigo fragmento bilíngue do Novo Testamento. No total - referência 2010, já foram encontrados 267 Unciais, 2764 Cursivos [escritos de pequenas letras manuscritas, rápidas e correntes], 2143 Lecionários [textos selecionados e utilizados em locais de cultos e ensinamentos], 88 Papiros e 47 Rolos encontrados mais recentemente.
Da mesma forma interessante os denominados Códices Minúsculos, datados entre os séculos IX e XV, mais de 4 mil exemplares, objetos de família ou mesmo pessoal, quase todos divididos em seções, por assuntos.
De tantos documentos fragmentários encontrados, nenhum original, é de se supor as tantas divergências entre eles, segundo o Pontifício Bíblico de Roma, "(...) pretende-se que no Novo Testamento inteiro, em 150 mil palavras, haja 20 mil variantes", a grande parte destas alterações não compromete o conteúdo. Hoje se pode destacar que o Novo Testamento possui, conforme a tradução, 181.253 palavras, para algo em torno de 30 para 40 mil diferenças.
Outro grande contribuinte para deturpação de textos bíblicos foi o sistema de pontuação, variável às vezes de um tradutor para outro, por exemplo, Mateus onde consta "antes que o galo cante três vezes me negarás", a depender da vírgula se pode entender o galo a cantar três vezes para uma negativa, ou mesmo não cantar até a ocorrência de tripla negação. Hoje, apesar das tantas edições revistas e corrigidas, ainda permanecem as divergências se o galo cantou duas vezes conforme Marcos, uma vez de acordo com Lucas, ou, consoante em João, nem cantou enquanto Pedro não negou (...).
Quanto à promessa de Jesus, a um companheiro de suplício, "em verdade te afirmo hoje estarás comigo no Paraíso" contém duas diferentes interpretações, conforme colocação da vírgula.
Esta situação é de complicado acerto porque Jesus não teria partido de imediata pós-morte para o Paraíso, pois teve antes uma incursão pelo Inferno e, a seguir, uma estadia terrena de quarenta dias, enquanto não elevado aos céus. Também não teve aquela escapada para o Paraíso, num momento entre o Inferno e a Terra, porque o próprio Jesus disse a Maria Madalena, "Não me toques [Não me detenhas] porque ainda não subi para o meu Pai" (João 20: 17), pouco a importar se depois ele, mesmo sem subir aos céus, até se alimentou em companhia dos caminheiros para Emaús.
O - 'hoje' - posto no texto seria desnecessário, caso Jesus tivesse referido aquele estadia celeste num tempo futuro.
Sempre alguém procurou facilitar as leituras dos textos sagrados, estando entre os famosos Eusébio de Cesareia, que século IV idealizou um sistema de divisão dos Evangelhos em dez tabelas, que servia de orientação para localizar assuntos e referencias entre si, a primeira com as passagens comuns nos quatro livros, depois e sucessivamente de cada um deles com os outros três, ficando uma ultima tabela para referências comuns entre eles.
O trabalho de Eusébio, na verdade entrelaçamento dos evangelhos, reuniu 1162 grandes e pequenas seções distribuídas: Mateus -355 , Marcos - 233 , Lucas -342 e João -232.
Outro citado divisor foi o diácono alexandrino Eutálio que, no ano 459 tornou público suas traduções das cartas paulinas, acentuadas e divididas em linhas - Stkoi, com divisões em resumos - Tiltloi e capítulos - Kefália. 
O mesmo Eutálio, em 490, viria fazer o mesmo com Atos e as Epístolas de Tiago, Pedro [I e II], João [I, II e II] e Judas, chamadas Epístolas Católicas. Atualmente estes trabalhos creditados a Eutálio são postos em dúvidas, acreditando-se colocados no início do século XIV num palimpsesto e depois encontrados por Tischendorf em 1865, quando da descoberta do Códice de Porfírio (232/303 EC).
Mas, ainda é Eutálio, o primeiro a separar e acentuar palavras na Bíblia, e teria sido o precursor em utilizar pontuações, mas disto não se tem certeza.
A divisão bíblica capitular somente surgiu no século XIII, de autoria do Arcebispo de Cantuária [Conterbury], Stephen Langton, numa versão latina. As divisões de cada capítulo em versículos tiveram dois autores principais, Santes Pagnino de Lucca - conhecido como Santo Pagnini, para o Antigo Testamento em 1528, e o tipógrafo francês Robert Estienne foi o versífero do Novo Testamento em Viena, em 1550/1551.
São lembrados divisores bíblicos o Hugo de Saint-Cheir que em 1240 dividiu os capítulos [de Langton] em sete partes destacadas por letras. Leffevre, já em 1509, havia enumerado em versículos o livro Salmos, cujo sistema Pagnini adotou em todo Velho Testamento latino.
Consta ter sido  Estienne quem, em 1555, publicou o sistema de concordância bíblica, para conduzir determinado assunto a outras referências ou assuntos próximos.
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Continuação: Assuntos surdinados - II

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