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sábado, 3 de abril de 2010

DA TEOLOGIA DA REENCARNAÇÃO - I

Da reencarnação e manifestações de espíritos
O presente estudo fundamenta-se nas Sagradas Escrituras Judaicas e Cristãs, de domínio público, em transliterações e notas explicativas do 'Pontifício Instituto Bíblico de Roma - Tradução Bíblia Sagrada' (Edições Paulinas, 1967); consultas, transliterações e traduções do especialista "Dr. Severino Celestino da Silva, obra Analisando as Traduções Bíblicas - Editora Ideia', recorrente ao estudioso judeu Avaraham Avdam"; e outras fontes referenciadas.
1. Tratado dos textos sagrados, dos dogmas, das tradições e postulados cristãos 
Nenhum exegeta bíblico pode mostrar o espiritismo ou o mediunismo na Bíblia, como se palavras traduzidas do grego, simplesmente porque elas não constam em nenhum texto sagrado do judaísmo nem do cristianismo, argumentos que muitos estudiosos cristãos usam para condenação dos dogmas e doutrinas espíritas e de outros cultos mediúnicos, quase todos na erronia denominados espiritistas.
Equivocadamente algumas traduções bíblicas, mais ou menos atuais, empregam aqueles vocábulos como traduções e cópias fiéis dos originais bíblicos, a exemplo de Levítico 9: 31 "Não vos vireis para médiuns espíritas" (Novo Mundo das Escrituras, Edição Brasileira 1967). Até o momento, nenhum dos originais bíblicos chegou aos nossos dias, senão antigas cópias gregas, e nelas não constam espírita, médium, mediunidade ou incorporação, nem nenhum dos outros neologismos próprios do espiritismo religioso que, senão todos criados por Allan Kardec (Leon-Hippolyte Denizard Rivail), Codificador do Espiritismo, ao menos por ele dados a conhecer em suas diversas obras, e que em nada parece anteceder ao próprio codificador - Século XIX. 
Embalados que certos termos usuais do espiritismo não podem constar das traduções bíblicas, os 'estudiosos' determinam, arbitrariamente, que a Bíblia não traz a reencarnação em nenhuma de suas páginas, obviamente com isso a contraditar dogmas assumidos por certos credos religiosos. Bradam os biblistas calam os espíritas, um e outro pela mesma razão de não saber o que dizem.
O primeiro andamento para compreender a reencarnação e vê-la nas páginas da Bíblia, é saber-lhe o significado ou aquilo que significa o ato de reencarnar. 
Recorrendo aos dicionários logo se compreende reencarnar como sendo 're + encarnaronde 're' significa repetição, repetir, tornar a, e 'encarnar' - do latim incarnare - é o que se entende por tomar corpo carnal, com a tradução literal de tornar a tomar corpo carnal.
Tornar a tomar corpo carnal ou de novo nascer, indiscutivelmente é um ato de reencarnar, que consta dos textos sagrados dos judeus e cristãos, conforme primeiramente vista em Mateus 19: 28, quando Jesus esclarecia os discípulos quanto à sua missão e objetivos terrenos: "(...) E Jesus disse-lhes: na reencarnação final, quando o filho do homem se assentar no seu glorioso trono, vós o que me seguistes, também estareis sentados (...)" - N.M.E, ou, "(...) vós que me tendes seguido, quando, na reencarnação final (...)" - Tradução João Ferreira de Almeida.
As traduções bíblicas autorizadas omitem propositadamente a reencarnação, substituindo-a por regeneração ou recriação. Embora tanto regenerar quanto recriar tenham significados de dar nova vida a, estão elas distantes daquilo que se enseja por reencarnação em termos de doutrina. 
A tradução do Pontifício Instituto Bíblico de Roma (1967: 1239-B), em nota referente àquele texto de Mateus 19: 28 diz: "na palingenesia final", grego transliterado "(...) en té paliggenesia (...)", onde 'palin' [de novo] + 'gênesis' [nascer] vem precedida do artigo grego 'té', para se referir a um retorno singular do espírito, típico de máxima e ultima evolução terrena, daí a tradução fiel 'na reencarnação final'. 
Pela profundidade das palavras, o Rabino revela ser espírito evoluído e ciente de seus propósitos, encarnado quando outros espíritos que lhe seriam auxiliares diretos também se faziam presentes, fisicamente, para aquela jornada, tanto que Jesus está a lhes falar exatamente da reencarnação final. 
Epístola Tito 3: 1-5, "Admoesta-os a que se sujeitem aos principados e potestades [hierarquias celestes], que lhes obedeçam e estejam preparados para toda a boa obra; que a ninguém infamem, nem sejam contenciosos, mas modestos, mostrando toda a mansidão para com todos os homens. Porque também nós éramos noutro tempo insensatos, desobedientes, extraviados, servindo a várias concupiscências e deleites, vivendo em malícia e inveja, odiosos, odiando-nos uns aos outros. Mas quando apareceu a benignidade e amor de Deus, nosso Salvador, para com os homens, não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia nos salvou pelo lavatório da reencarnação e da renovação do Espírito Santo (...)." 
O autor de Tito relata uma série de desqualificações de caráter e de procedimentos dos seus professos, advindos de outros tempos, que tanto pode ser daquela mesma geração como de existências anteriores; todavia, posto que diz agora salvos pelos procedimentos da reencarnação, obviamente erros cometidos em vidas passadas.
Os tradutores e copistas bíblicos, mais uma vez [e sempre farão isto], vertem o grego paliggenesias como regeneração ou recriação em português. Vejamos:

-"Ouk ex ergôn tôn en dikaiosunê a epoiêsamen êmeis alla kata to autou eleos esôsen êmas dia loutrou paliggenesias kai anakainôseôs pneumatos agiou", texto grego transliterado, assim traduzido para o português: "(...) não por obras da justiça que tivéssemos feito, mas segundo sua misericórdia nos salvou pelo lavatório [loutrou no grego] da reencarnação [paliggenesias], e pelo renascimento de um espírito santo" (Dr. Severino Celestino da Silva, Analisando das Traduções Bíblicas (Apud Jefferson Freetzi).
Talvez por descuido intencional, as traduções portuguesas da bíblia dizem 'lavagem' em vez de 'lavatório', pois que o grego 'loutrou' significa, segundo especialistas, lugar ou local em que se lava e não lavagem, conforme consta.
Outros textos bíblicos determinam a preexistência do espírito [alma], como ratificação do fenômeno reencarnatório, posto que a reencarnação é a comprovação da preexistência do espírito, em outras vidas terrenas, com somatórias de experiências.
No Livro Isaías 49: 1-5, por exemplo, a preexistência da alma é bastante destacada, como experiente comprovada, para certas missões presentes. "O Senhor me chamou desde o ventre, desde as entranhas de minha mãe (...) E agora diz o Senhor, que me formou desde o ventre para seu servo, que lhe torne trazer Jacó (...)".
Moisés também trazia em si um espírito preexistente, bastante conhecido conforme Êxodo 33: 12 e 17, "Conheço-te por teu nome, também achaste graça aos meus olhos. (...). Farei isto que me tens dito [a entidade após ouvir Moisés], porquanto achaste graça aos meus olhos e te conheço por nome". Conhecer por nome tem significado bíblico de anterioridade ao nascimento, e este diálogo ocorre entre Moisés e um Sló (Elohi/Eloha o mesmo que espírito), já divinizado pelos hebreus como o ser manifestante mais elevado entre todos, denominado 'o deus dos deuses'.
Abraão trazia em si um espírito de outra época, Gênesis 18: 19,"Porque eu o tenho conhecido".
Isaias 48: 8, traz passagem em que se conhecia determinado espírito como infiel e desleal desde antes do nascimento, "(...) porque eu sabia que obrarias muito perfidamente, e que eras prevaricador desde o ventre".
A preexistência da alma [espírito] e seus feitos anteriores a uma presente encarnação, era de aceitação plena no Novo Testamento, conforme se pode ver em João 9: 1-3: "Quando Jesus ia passando, viu um homem que era cego de nascença, e os discípulos perguntaram: Mestre, quem pecou, para este homem nascer cego, foi ele ou seus pais".
Lucas 1: 15 estabelece, também, a preexistência do espírito: "(...) cheio do espírito santo, já desde o ventre materno". Cheio do espírito santo significa, espírito evoluído ou santificado que, na citação, já o era antes do nascer.
Epístola Gálatas 1: 15 "(...) que desde o ventre de minha mãe me separou, e me chamou (...)", relato provável sobre o apóstolo Paulo, que num dado momento, depois de tanto fazer padecer os cristãos, declara-se predestinado para Cristo, desde antes o nascimento, tanto que em Romanos 1: 1 se declara "separado para o evangelho de Deus", e na Carta aos Efésios 1: 11, "Nele, digo, em quem também fomos feitos herança, havendo sido predestinados, conforme o propósito daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade".
Se as citações acima se mostram passíveis de polêmicas, afinal nenhuma delas é anterior à fecundação, Jeremias 1: 5 faz-se esclarecedor inconteste da preexistência do espírito que o habitou: "Antes que te formasse no ventre, e antes que saísses da madre, te santifiquei; às nações, te dei por profeta". Alguns outros textos que atestam pluralidade de vidas: Atos 4: 26-28; Romanos 8: 29-30; I Corintios 2: 7 Efésios 1: 4-5 e 11.
Sob a óptica cristã, analisada as ocorrências, a reencarnação não somente está mencionado em tantos textos bíblicos, como também plenamente aceita pelos judeus e primeiros cristãos, daí a faculdade e crença que espíritos desencarnados podiam também desencadear certos fenômenos de manifestações, positivas ou negativas, diretas ou indiretas, bastando para tanto apenas um veículo intermediário racional entre os mundos físico e extrafísico.
O culto de consultas aos mortos foi bastante popular em detrimento aos sacerdotismo, que os governos ditadores em nome de Deus, proibiram-no aos judeus. Num futuro mais distante, meados do século VI, alguns nomes do cristianismo viriam não somente proibi-lo aos cristãos, como também declarar banida a doutrina da reencarnação.
A criação da escola de profetas (I Samuel 10: 5 e referencias) para formação de iniciados junto ao povo hebreu, foi uma maneira legal de se institucionalizar consultas aos 'elohim', às vezes denominados deuses, outras demônios, mas sempre a significar espíritos desencarnados ou divindades prestas a algum objetivo junto aos homens.
As manifestações espirituais são comprovadas não somente pelas evocações de espíritos de mortos conhecidos, para alguns favores, como ainda certas manifestações espontâneas ou provocadas de entes espirituais para proteções, tormentos físicos e psíquicos, cumprimento de sentenças ou resgates de vidas anteriores, permissões divinas ou não de possessões de corpos, todas como situações que, se condenadas antes para os judeus e depois aos cristãos, todavia, são encontradas na Bíblia.
Certos textos foram adulterados, outros suprimidos ou substituídos, alguns ainda bastante fáceis de serem localizados e esclarecidos à luz das próprias Escrituras.
2. Comunicação espiritual narrada na Bíblia
A passagem que se encontra em Gênesis 3: 1 e seguintes, relata que determinado espírito do mal, serviu-se de uma serpente para atrair e enganar o primeiro casal bíblico, a tratar-se da primeira relação, registrada na Bíblia, entre o humano e o espiritual para fim determinado, através de intermediação por um ser vivente.
Alguns especialistas cristãos atestam que um espírito do mal fez uso de ventriloquia à distância, aparentando ser a serpente a falar, enquanto outros afirmam que o próprio demônio se apossou dela, para seduzir o casal a transgredir as leis.
A despeito de ofídio não ter a capacidade de fala nem inteligência, e toda ocorrência estar montada numa lenda que diz do paraíso terrestre e do destino do homem, entende-se ali alguma espécie de relacionamento espiritual/humano, com efeitos produzidos, através de um intermediário vivente.
Pretendem alguns estudiosos que certos tradutores e copistas traduziram o hebraico  'nâhâsch' - aquele que faz encantamento, ou feiticeiro quase sempre associado à ideia de praticante de culto ofiolátrico - como sendo 'nâhàsch' - serpente -, cujas sutis diferenças apresentam, ao quadro da tentação, uma história muito mais compreensível.
Evidente que é mais complexo explicar o que fazia Satanás (demônio ou espírito do mal) no Paraíso, do que a manifestação dele em si, como difícil seria Adão e Eva, criados para a vida física eterna, compreenderem a morte corpórea como castigo, além do desastre espiritual. Mais absurdo, porém, é a extensão da pena para toda a humanidade.
Manifestação de espíritos (bons ou maus) em animais não parece fato isolado, sendo encontrado, também no livro Números 22: 24 e 25, ratificado em II Pedro 2: 16, que narra certo espírito (da parte de Deus), fazer uso de um muar para repreender um vidente [profeta] não hebreu.
Mateus 8: 28-34 e referências narram espíritos num fenômeno incorporador em animais.
Isaias 13: 21 fala dos 'se'irim', em hebraico, como espécie de caprinos hirsutos dos desertos possuídos por espíritos do mal. Conforme traduções bíblicas, aqueles caprinos são denominados sátiros, demônios caprinos ou simplesmente hirsutos, sempre com significado de seres espirituais maléficos.
Levítico 17: 7 traz referências sobre os 'se'irim', na qualidade de espíritos ou gênios habitantes dos lugares ermos e malditos, que invariavelmente assumiam formas animalescas de longas pelagens, ou que adentravam nos corpos de outras feras, enlouquecendo-as contra humanos.
3. Consultas aos mortos (aos espíritos), intermediações e práticas adivinhatórias na mesma categoria do profetismo divino
"(...) a ti, porém, nada de semelhante o Senhor, teu Deus, te permite" (Deuteronômio 18: 14).
Para Israel não eram permitidas consultas aos nigromantes, feiticeiros, adivinhos, encantadores, videntes, evocadores de espíritos e outros intermediários e intérpretes entre o mundo terreno e o espiritual, que não da própria nação, conforme estabelecido pela teocracia judaica.
Ao povo hebreu somente eram permitidas consultas espirituais e afins, aos seus vasos consagrados, ou seja, aos homens levantados e autorizados para receber, transmitir e veicular a vontade de Deus.
Levítico 20: 27 determina morte por apedrejamento, a qualquer homem ou mulher, de Israel ou estrangeiro que resida em seu território, que em si tiver manifesto, ou for capaz de reproduzir aqueles dons, sem autorizações. De igual forma, declara morte ao homem ou mulher da nação hebreia, ou residente, que procurar aqueles praticantes em outras nações, ou, ainda, aos praticantes estrangeiros que possam morar no território hebreu, e neste ultimo caso, também morte a quem procurar praticar tais espécies de cultos.
Qualquer hebreu que, sabidamente, consultava pessoas com os dons ou aquelas capacidades, entre gentes estranhas, os sacerdotes determinavam-lhe impureza legal por abominação ao Senhor, e declaravam-no interdito (Êxodo 22: 19), para assim impedi-lo de participar dos atos religiosos judeus. O interditado comum era, quase sempre, morto exemplarmente, por apedrejamento, para não contaminar os demais membros da nação hebreia, com aqueles cultos impróprios. O interdito seria a pena máxima para os hebreus transgressores das leis mosaicas.
Doenças não manifestas exteriormente, eram atribuídas às frequências naqueles cultos; a sentença de morte era por assim dizer, a extirpação do mal que podia propagar-se no seio da coletividade, e o indivíduo nem precisava ter a enfermidade manifesta, a bastar denuncia [comprovada] de sua participação nalgum daqueles cultos proibidos.
Mesmo sob risco de interdição e morte, a Bíblia não oculta a sempre crescente procura dos hebreus por indivíduos possuidores de dons, inclusive até autoridades do povo, como o Rei Salomão, que cultuou deuses estranhos e a eles levantou altares.
Evidente que a contaminação de fato temida pelos dirigentes dos hebreus, era a espiritual, que poderia evidentemente quebrar sua unidade nacional, e a teocracia, sob mando ditatorial dos sacerdotes que perderiam os domínios e as benesses do poder.
Também não parecia isto concorrência saudável com as práticas dos iniciados hebreus, donos de um culto excessivamente formal e ritualizado, além impopular e incompreendido pelo povo. Os manifestos estrangeiros pareciam mais diretos, de melhor entendimento e mais fácil assimilação.
Javé, o deus hebreu, em nenhum momento, através de seus mensageiros, afirma a impossibilidade das comunicações entre mortos e vivos, bem como respectivas ações, pois isto seria negar sua própria existência e origem; apenas proíbe tais práticas ao povo hebreu, em se tratando de procuras deste entre outros povos, pelos motivos expostos.
Porventura não tinha Israel homens com aquelas mesmas capacidades, devidamente autorizados, para os mesmos determinados fins? Porque o povo hebreu e mesmo os destaques de sua sociedade buscavam cultos estranhos e de estranhas gentes?
Entenderam a complexidade do sacerdotismo, praticamente inacessível às massas, e então buscaram uma forma mais popular de religiosidade para o povo, através dos profetas, conforme visão extraordinária de Samuel, através de profunda reforma religiosa aos hebreus (I Samuel 7: 2-6 e referencias), aos moldes dos cultos de gentes circunvizinhas.
Com o profetismo, não haveria razões para o povo hebreu buscar deuses de outros povos, posto que Javé com eles se comunicasse diretamente, e assim o rito lhes foi dado para facilitar consultas espirituais diretas, sem as formalidades e os rigores dos cultos sacerdotais.
O povo preferia mensagens diretas e imediatas, através de contatos mais próximos com os intermediários entre o espiritual e o humano.
Nos tempos bíblicos da antiguidade, profeta seria interprete das vontades espirituais, espécie de intermediário consagrado [preparado] entre os homens e os celestiais. O profetismo seria uma instituição legal outorgada por Javé, ou seja, conforme Deuteronômio 18: 9-22, com destaques o verso 15 que implica profeta no sentido coletivo/distributivo.
Mas, para entendermos mais profundamente o profetismo ou o profeta, temos a necessidade das observações e exposições bíblicas, que adivinho (estrangeiro ou não ao povo hebreu), conforme Gênesis 41: 8, era denominação igualmente dada a algum intérprete das mensagens e vontades dos espíritos aos homens. Então um homem adivinho, por profissão, seria da mesma categoria que o profeta, senão de idênticas funções ou, mesmo, sinônimas.
No Livro Isaías 8: 19, os adivinhos são colocados igualmente aos nigromantes, ou seja, aqueles que evocam espíritos dos mortos, que mantêm contatos com espíritos em geral, se deixam possuir por eles, trazendo suas mensagens aos homens.
Em Isaías, 47: 12, o adivinho, quanto aos atributos e capacidades, é o mesmo que, mago, encantador e feiticeiro, isto é, o que recorre, invoca e recebe [ou tem] em si, poderes do oculto e agem de conformidade com desejos de tais forças.
Os versículos 10 e 11 de Deuteronômio 18 trazem rol de nomes dados aos hoje ocultistas, mas tudo parece resumir em certos indivíduos que, de uma maneira ou outra se põe em contato com espíritos e deles se valem para suas práticas.
Jeremias 27: 9-10 iguala adivinho e feiticeiro (agoureiro em algumas versões) ao profeta.
Profeta, de conformidade com I Samuel 9: 9, também tem o mesmo significado de vidente, embora a palavra profeta, posteriormente tornou-se termo biblicamente mais aceito para identificar homens de Deus, enquanto vidente e outras classificações viria ser utilizado, quase sempre, para identificar homens usados por forças do mal, embora durante algum tempo todas denominações fossem sinônimas de profeta, ou seja, quase todas com as mesmas grafias em hebraico/aramaico ou no grego antigos, vertidos para o português.
Isto reafirma que quaisquer daqueles designativos, estão sempre a significar algum elemento intermediário entre o mundo espiritual e o humano, todos igualados a uma mesma categoria, divinos ou não.
4. Incorporações de espíritos
Alguns biblistas e pregadores procuram minimizar o fato, outros parecem não entender o acontecimento, enquanto a maioria dos cristãos dentre os poucos que entendem referida passagem, acredita que o Espírito Santo foi o único manifestante.
O texto encontra-se em Números 11, a partir do verso 11 até o 30, quando Javé solicita de Moisés setenta anciãos e seus oficiais, para ajudarem o Libertador, que achava demasiado pesado o seu cargo. O cansaço alegado por Moisés é físico e, provavelmente, mental, haja vista ser ele praticamente único líder para atendimento direto a seiscentos mil homens judeus, homens a pé, isto é, somente contados os machos adultos e vigorosos, de conformidade com o verso 21. 
Efetivamente, para toda aquela multidão, sessenta e oito pessoas, fora do arraial, receberam do espírito que estava sobre Moisés, pelo versículo 25, e puseram a profetizar e praticar atos próprios do dom [vidência, revelações, instruções, consultas, etc]; dois outros escolhidos receberam manifestos idênticos dentro do acampamento, verso 26, para aqueles e aquelas que não puderam sair.
Receber do espírito que estava sobre Moisés, significa receber em si ou se deixar possuir por espíritos de um conjunto de entidades denominado falange, que a Bíblia diz posto [infundido, insuflado ou penetrado] sobre aqueles setenta anciãos. Não é possível qualquer esclarecimento, inteligente, que possa ou venha diferir das hoje denominadas incorporações espirituais.
É compreendido pelo texto que Josué, ministro de Moisés e posteriormente seu sucessor, não entendeu o que se passava, ciente que dois deles profetizavam no acampamento, pediu a Moisés que os proibisse, por alguma possível inveja ou ciúmes, senão, simplesmente por não compreender aquilo que ocorria. O verso 29 demonstra Moisés também alheio aos acontecimentos, com referencia aos dois que ficaram no acampamento, tanto que se encaminha para o local, acompanhado de alguns dos anciãos (conselheiros) do povo, não manifestos por espíritos, para alguma possível constatação e esclarecimentos dos fatos, numa interessante passagem, infelizmente truncada nas traduções atuais, por motivos não esclarecidos.
Setenta pessoas obviamente não prestariam atendimento a todo aquele povo, em questão de horas, como enseja o texto, mesmo se considerado o verso 16 que aponta pessoas auxiliares dos anciãos. É correto tratar-se de intermediários, os anciãos, colocados em lugares estratégicos com seus assistentes, para as consultas e orientações devidas ao povo, missão que pode ter durado um período mais ou menos longo.
Na Bíblia, tanto a reunião daquele contingente quanto os manifestos dos profetas, encerraram repentinamente, sem mostra das reais objetividades, com brusca interrupção e mudança de assunto, considerando os versos 30 e 31.
Atribuir os tais manifestos ao Espírito Santo é desconhecer o assunto, e não ter noção mínima dos mais antigos manuscritos e cópias referentes.
O texto bíblico em estudo é obscuro e desconexo, corrompido e com descaracterizações propositais, além de interrupções arbitrárias. As versões bíblicas diferem os significados quanto ao cumprimento daquele ofício, naquilo que diz algumas traduções "nunca mais voltaram a fazê-lo [profetizar]", enquanto outras "[profetizaram] como nunca tinham feito" ou, ainda, "e não cessaram mais [de profetizar]". 
Se o relato está de fato mutilado e nem esclarece propósitos, todavia, deixa entender bastante claro que certos homens dentre os hebreus, receberam [incorporaram] espíritos e prestaram serviços espirituais à comunidade.
5. Deus ordena e responde através dos oráculos e lançamentos de sortes
Êxodo 28: 30 relata-nos as denominações 'Urim e Tumim', Luz e Integridade ou Perfeição, como duas pedras consagradas, para interessante prática de consultas a Javé, que os iniciados hebreus utilizavam, em favor do povo.
Outras pedras seriam utilizadas para se consultar Javé, não se sabendo exatamente quantas, embora alguns apontem, pelo menos, doze delas representativas das tribos, tomando por base Êxodo 28: 17-20. Ao contrário de Urim [Aleph] e Tumim [Tau], não se pode identificar com certeza o nome das demais pedras.
Originalmente, Urim e Tumim designam espécie de técnica divinatória que consistia em 'lançar a sorte', ou seja, consultar espíritos ou o senhor [Deus] dos espíritos, segundo o livro Números 27: 16, todavia, são desconhecidos os métodos como eram efetivamente feitos os lançamentos, e quais os critérios de interpretação, sendo certo, porém que, uma vez lançadas e, devidamente interpretadas, delas se retiravam respostas e vontades (Números 27: 21-23).
As interpretações eram sempre tidas como inspiradas, portanto infalíveis e o livro de Esdras, 2: 63, nos revela a seriedade como era tal prática.
As pedras consagradas eram colocadas num adicional do éfode [bolsa ou peitoral – Levíticos 8: 8], veste sagrada cuja confecção acha-se detalhada em Êxodo 28 a partir do verso 4 e referências; o éfode era parte essencial do ato de consultas, porque neles ficavam as pedras oraculares, e quando alguém de importância solicitava o jogo, pedia ao sacerdote iniciado que trouxesse o éfode e daí iniciava-se a operação (I Samuel 14: 18). Certo que tal prática era determinada por Javé, os religiosos hebreus não tinham dúvidas ser o próprio Senhor ou algum espírito de sua parte quem respondia através do Urim e Tumim.
O jogo, aparentemente, consistia em lançar pedras e interpretar vontades ou mensagens espirituais, quando não algum espírito permissionário, a inspirar um sacerdote ou profeta, para fazer o jogo e anunciar ao povo: "Assim falou Deus". 
I Samuel 13: 41-42, demonstra uma sessão de consultas, através do Urim e Tumim, parecendo tratar-se de perguntas objetivas com respostas sim ou não, uma a uma, de forma progressiva, secundada por previsões sucessivas, demonstradas em I Samuel 23: 9-13. No capítulo 30 do mesmo livro, versos 7-9, relatam-se outra rodada de consultas.
Mas como saber quando não era Deus ou algum enviado quem respondia através do oráculo?
Êxodo 18: 22 dá a resposta, num sentido assim, quando alguém falar em nome de Javé e tal palavra não se cumprir, essa é a palavra que Javé não pronunciou.
Balaão não era profeta hebreu (Deuteronômio 23: 4), portanto não era profeta de Javé, mas foi usado por Ele (Números 22: 5), inclusive numa célebre antevisão do Cristo (Números 24: 16-17), embora a situação pela qual ele se fez mais conhecido, sem dúvidas foi da jumenta que o anjo usou para lhe dar mensagem falada. De Balaão diria a Epístola II Pedro 2: 16 "mas teve a repreensão da sua transgressão; o mudo jumento, falando com voz humana, impediu a loucura do profeta", de uma passagem firmada em Números 22: 24-35.
Apesar de algumas experiências com Javé, Balaão (Números 31: 16, II Pedro 2: 15 e Judas 1: 11) foi morto pelo fio da espada (Josué 13: 22), porque fez transgredir o povo hebreu.
Os profetas estrangeiros consultavam seus deuses pelo mesmo método dos hebreus; a atividade de Balaão indica que ele se valia de idêntico sistema oracular de consultar divindades, inclusive ao próprio Javé que lhe respondia, diretamente ou por algum enviado, também pelo mesmo sistema. 
O espiritismo [kardecista] não utiliza lançamentos de pedras para suas comunicações, nenhuma seita cristã atual, daquelas que tem apenas a Bíblia como única regra de fé, se vale de jogos similares para seus contatos com Deus, e todos que usam tais práticas, são considerados adivinhos [prognosticadores], lançadores de sortes, interpretes, magos, feiticeiros, esotéricos, gnósticos, hereges ou, em outras palavras, tais usuários praticam abominações ao Senhor, quando assim procedem.
Alguns cultos mediúnicos e esotéricos, no entanto, praticam jogos daquela natureza, sendo o mais conhecido no Brasil, o jogo de búzios [pequenas conchas do mar] pelo Candomblé, Umbanda, Quimbanda e cultos assemelhados. As runas [pedras ou varetas] e o 'i'ching', com duas pedras losangos que se complementam harmonicamente, também são bastante divulgados.
Todos os tipos de consultas do gênero denominam-se lançamento de sortes, ou consultas aos oráculos. A Bíblia diz, textualmente em I Samuel 14: 42, "lançai a sorte", num momento em que se necessitava perguntar e ouvir respostas espirituais. 
No livro de Jonas (1: 7), homens que "não eram de Deus", lançaram sortes, isto é, consultaram seus deuses, para saber quem lhes traziam desgraças, e a sorte recaiu sobre Jonas, a razão certa dos infortúnios que os levaram à consulta.
Entre soldados, aos pés da cruz, foi lançada sorte para qual deles seriam destinadas as vestes de Jesus (Mateus 27: 35, referência especial vista como cumprimento profético de Salmos 22: 18). 
Saul, rei dos hebreus, consultou Javé (I Samuel 14: 26-45), e partes da situação foram definidas através de lançamentos de sortes - "lançai a sorte" - conforme verso 42.
José, filho de Jacó, mais conhecido como José do Egito, se confessou adivinho (Gênesis 44: 15), através de uma taça, pela qual certamente também interpretava as vontades dos espíritos do Senhor. 
Os primeiros cristãos valeram da prática oracular, lançamento de sortes, a exemplo da escolha do substituto de Judas Iscariotes (Atos 1: 26), pelos apóstolos remanescentes, foi definida pelo lançamento de sortes, e esta recaiu sobre um certo Matias. Tal passagem é tão constrangedora aos cristãos, que nem a colocação tardia da confirmação do Espírito Santo sobre aquela escolha, em algumas versões, minimizou os efeitos, ao contrário, serviu apenas para reafirmar práticas que hoje são condenadas pelas doutrinas cristãs.
Alguns outros textos bíblicos mostram homens de Deus lançando sortes, com o próprio Javé ou espíritos a lhes determinar o destino, através dos oráculos, a exemplos de Provérbios 16: 33, Levíticos 16: 8 e I Samuel 10: 20-21.
A culpabilidade dada a certo Acan [Acã] e a punição de morte extensiva a toda sua família, foi apontada através do oráculo, assim entendido no Livro Josué capítulo 7: 14.
6. Evocação de um espírito desencarnado que se fez manifesto 
I Samuel 28 é a maior dor de cabeça 'espiritista' para os cristãos, porque traz com detalhes a evocação, aparição e mensagem de um morto, através de pessoa intermediária, hoje denominada médium,  sem deixar nenhuma dúvida aos presentes de ser ele mesmo, o espírito do profeta Samuel, então recentemente morto.
Dizem os cristãos, no entanto, que foi o Diabo, Satanás ou qualquer Demônio, pai da mentira e do engano, quem se fez passar por Samuel, considerando algumas falhas ou mentiras na mensagem dada.
A principal evidência de erro estaria que o recado dado pelo pretenso espírito do profeta não se cumpriu integralmente, exato em I Samuel 28: 19 onde diz "amanhã tu e teus filhos estareis comigo", isto é, todos mortos no dia seguinte, pois Saul teria vivido uns dias a mais, até o suicídio narrado no capítulo 31: 4-6, além que somente três de seus filhos, e não todos, morreram nas mãos dos filisteus.
Tal argumento, porém, não resiste a uma análise séria, bastando ler I Samuel 28: 1-2 para entender que o texto tem como figuras principais Aquis e Davi, advindos do capítulo anterior, num assunto que cessa sem conclusão no verso 2, para retorno no capítulo 29 e todo o 30, evidentemente a tratar-se de interpolação de textos. 
Assim, a partir de I Samuel 28: 3 até o verso 25, o tema deixa de ser o Davi e Aquis, naquilo que intentavam para a narrativa de certas ocorrências vividas pelo rei Saul e alguns de seus próximos, no decorrer de uma única noite (versos 8 e 25); tal descrição finda em I Samuel 28: 25, para ser retomada, em sequência, somente no capítulo 31 do mesmo livro I Samuel.
Então no dia seguinte, ou seja, no capítulo 31 a partir do verso primeiro, os relatos informam das mortes dos soldados hebreus e o cumprimento da profecia, dada no capítulo 28: 3-25, com o suicídio de Saul e a morte de seus filhos, todos diante do avanço inexorável e destrutivo das forças filisteias.
Outra questão levantada pelos cristãos, é que apenas três dos filhos de Saul, e não todos como a profecia deixa entender, pereceram diante dos filisteus.
Não parece ter ocorrido nenhuma falha profética, por não haver determinação de quantos deles seriam mortos, nem a afirmação que todos seriam entregues aos filisteus e mortos, assim como nada diz, também, dos demais membros da família real.
Óbvio a necessária compreensão da linguagem bíblica, que seriam mortos em combate apenas os filhos envolvidos no conflito direto com os filisteus.
Embasa e justifica este argumento, um outro texto em I Samuel 15: 28, onde diz “O Senhor tem tomado de ti hoje o reino de Israel, e o tem dado ao teu próximo [Davi], melhor do que tu”, para entender que tal não ocorreu assim tão imediato como se faz supor, posto que Isbosete, filho sobrevivente de Saul, foi rei de Israel ainda por dois anos, antes que Davi finalmente viesse ocupar aquele trono.
Ainda, na vã tentativa de descaracterizar a manifestação como sendo do próprio Samuel e atribuí-la a um demônio, os biblistas argumentam que a pitonisa fez "subir" o espírito, conforme atestado no verso 13, e o que sobe ou vem de baixo são demônios ou espíritos do mal (Isaias 29: 4 e Apocalipse 13: 11), pois aquele que vem de Deus, vem do alto, conforme Tiago 1: 17 e referências. O significado da passagem, porém, é mais próximo com Gênesis 37: 35.
I Samuel 2: 6, Jó 7: 9 e referências outras, considerando ser crença hebreia que todos as almas [espíritos desencarnados] eram recolhidas, ou se recolhiam, num subterrâneo conhecido como 'seol' ou 'cheol', tido como morada de todos falecidos.
Uma outra argumentação cristã que não fora Samuel quem conversara com Saul, é que teria sido somente a necromante quem viu o espírito do profeta subir da terra, e que assim declarou, dando entendimento de subjetividade e contaminação coletiva mental indutiva ,de algo não verdadeiro, senão apenas para a intermediária.
A verdade, porém, foi Saul quem pediu a "chamada" de Samuel do mundo dos mortos, e a mulher declarou, inicialmente, ver espíritos e deles destacar um, cuja descrição fez Saul compreender estar diante do profeta (verso 14). O rei, dado entendimentos em I Samuel 10: 10 e 11: 6 e, especialmente, no capítulo 16, versos 14-23, não era nenhum inexperiente no assunto, inclusive tendo em si diversas vezes manifestos de espíritos bons e ruins, todos tidos e ditos da parte de Deus.
A intermediária também não parece nenhuma falsária, ao contrário, demonstra ser notória sensitiva, pelos versos 12 e 13, ao descobrir a identidade de seu consulente. 
Aos sectários é compreensível desconhecer, mas não os especialistas, que o pronunciado pelo espírito de Samuel (I Samuel 28: 17), na verdade é apenas menção repetida daquilo que o velho profeta já dissera, em vida, ao rei (I Samuel 15: 28).
Mais importante que os acontecimentos junto à pitonisa e desdobramentos sequentes, a nosso ver, são os motivos dos reais fatos e situações antecedentes, que levaram o rei Saul àquela consulta, a seguirem destacados.
O verso 6 do capítulo 28 declara que Javé se recusou terminantemente responder a uma consulta do rei Saul, porque o rei deixara de cumprir uma ordem divina, e assim perdera a graça de Deus (I Samuel 15: 19-23), ou por Ele rejeitado.
A ordem divina que Saul não cumpriu integralmente, era o aniquilamento total dos amalequitas da face da terra, ou seja, extermínio de todos os homens, mulheres, crianças de colos, velhos e animais domésticos, além da destruição geral dos demais pertences (I Samuel 15: 1-9). Saul atendeu partes da ordem, matando todo o povo mas, por algum motivo poupando o rei Agague, os melhores animais e, certamente, as riquezas daquele infortunado povo.
Este ato parcial de Saul foi o motivo de Deus rejeita-lo e determinar-lhe a morte, algo terrível da parte de Deus, muito mais pela estúpida ordem dada, que sua própria rejeição a Saul.
E porque Deus quis a destruição total dos amalequitas? Porque séculos antes, um rei amalequita e seu exército resolveram dificultar a passagem dos hebreus por seu território, quando do êxodo do Egito. Claro que o não matarás, o amar seu inimigo e o perdoar tantas vezes quantas necessárias, foram balelas legais, também pouco a importar que o correto seria Saul não ter praticado nenhum ato de violência gratuita contra os amalequitas, tantas gerações depois de uma ocorrência onde já ninguém da época vivia mais.
O arrependimento de Saul, quando exortado de sua "transgressão" pelo profeta Samuel (I Samuel 15: 30), não foi considerado por Javé, o terrível vingador.
Deus ao se recusar falar com Saul pelo Urim e Tumim, por sonhos e pelos profetas (I Samuel 28: 6), deixou-o sem opções de consultas senão através de algum proscrito especialista na área, mas, conforme parte do verso 3 daquele capítulo, o próprio Saul havia desterrado todos os adivinhos, feiticeiros, necromantes e congêneres de seu reino, no mais absoluto e estrito cumprimento do dever legal, religioso e moral para com Javé, porque esta era Sua determinação legal. 
O mesmo verso 3 informa que já era morto o profeta Samuel, e deixa entender o quanto Saul necessitava urgente do conselho ou ordem de Javé, porque os inimigos filisteus estavam prestes a invadir o reino, e o bom senso e costumes lhe recomendavam buscar tais aconselhamentos, antes de quaisquer outras atitudes.
Argumentam os cristãos que Saul deveria insistir em buscar orientação divina, arrepender-se e esperar, pacientemente, a misericórdia de Deus, tudo conforme diz a Bíblia, porém, ele foi logo procurar uma necromante, para assim obter resultados que Javé insistia em lhe negar, pouco importando, os argumentadores, se os filisteus iriam ou não matar hebreus inocentes. Aliás, a punição de Deus não se limitou apenas em atingir Saul, seus familiares e exército, mas a muitos civis inocentes de seu próprio povo.
Todavia, conforme diz a Bíblia em textos já citados, antes de recorrer à necromante, Saul buscou o Urim e Tumim que lhe recusou respostas (I Samuel 28: 6), algo não incomum, a exemplo de certa negativa de pronunciamento da parte de Deus para determinado assunto (I Samuel 14: 37), para quase em seguida o mesmo Deus responder um outro tema (versos 41-42 do mesmo capítulo 14). Desta vez, por Samuel 28: 6, a recusa de Javé lhe foi determinante para a morte.
Portanto, segundo nos é dado entender pela Bíblia, Saul somente se dirigiu àquela necromante, depois de esgotados todos os meios legais disponíveis entre seu povo, ou seja, quando já não tinha mais nenhum intermediário que lhe conseguisse contato com Javé.
Saul quando resoluto para o ato, sabia com que espírito deveria conversar, e o que significa crença naquela possibilidade de contato.
Também não ignorava o rei que, recorrendo a uma feiticeira ou afim, certamente estava a transgredir severa lei mosaica, cuja punição para tal delito era a morte por apedrejamento. 
Posto todas as rejeições aos argumentos contrários e pelas considerações bíblicas, é impossível negar não ter sido mesmo o profeta Samuel, então morto recente [I Samuel 28: 3], quem teve seu espírito evocado por uma necromante, e quem efetivamente apareceu aos presentes, foi por eles reconhecido e deu seu recado antes de retornar ao mundo dos mortos ou dos espíritos, de onde viera.
O livro bíblico Eclesiástico, aceito pelo credo católico, diz em seu capítulo 46 verso 23, haver sido de fato o espírito de Samuel quem, evocado, se fez presente na sessão de Endor. Daí, o conflito já fica entre os próprios cristãos, que aceitam ou rejeitam o Eclesiástico.
7. A Bíblia admite consultas aos espíritos através de intermediários - médiuns
"Quando disserem a vocês: Consultem os espíritos e adivinhos, que sussurram e murmuram fórmulas; por acaso, um povo não deve consultar seus deuses e consultar os mortos em favor dos vivos?; comparem com a instrução e o atestado: se o que disserem não estiver de acordo com o que aí está, então não haverá aurora para eles" (Isaias 8: 19-20, Edição Pastoral).
O Livro de Isaias, capítulo 8: 19-20, tem sido usado por críticos cristãos, como advertência proibitiva às práticas de consultas aos espíritos. Cristãos espíritas se calam muitas vezes, talvez por ignorar aquilo que realmente diz o texto, que não somente comprova a possibilidade de contatos com espíritos do além, como admite tal prática. 
As diversas traduções bíblicas, para o texto em questão, são bastante diferentes entre si, sem sentidos lógicos mesmo aos olhos dos analistas mais atentos. Vejamos algumas delas, de mais fáceis acessos: 
-A tradução Ferreira de Almeida (1958, edição revista e corrigida) traz: "Quando vos disserem: consultai os que têm espíritos familiares e os adivinhos, que chilreiam e murmuram entre os dentes; – não recorrerá um povo ao seu Deus? A favor dos vivos interrogar-se-ão os mortos? À Lei e ao Testemunho! Se eles não falarem segundo esta palavra, nunca verão a alva".
-Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas, edição de 1967: "E caso vos digam: 'recorrei aos médiuns espíritas, ou aos que tem espírito de predição, que chilreiam e fazem pronunciações em voz baixa', não é a Deus que qualquer povo devia recorrer? [Acaso se deve recorrer] a pessoas mortas a favor de pessoas vivas? À lei e à Atestação!". 
-Bíblia Online/Jesus Site: "Quando vos disserem: Consultai os que têm espíritos familiares e os feiticeiros, que chilreiam e murmuram, respondei: Acaso não consultará um povo a seu Deus? acaso a favor dos vivos consultará os mortos? A Lei e ao Testemunho! se eles não falarem segundo esta palavra, nunca lhes raiará a alva" www.jesussite.com.br.
-A tradução pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma - PIBR, edição 1967, muito mais próxima de antigos textos e tradições, diz: "E quando vos disserem: - Consultai os nigromantes e os adivinhos, que murmuram e segredam; porventura um povo não deve consultar o seu deus, e os mortos pelos vivos? –, segui a instrução e a advertência. Certamente vos hão de dizer tais coisas, que não prometem aurora". 
-Estudiosos e tradutores bíblicos do Pontifício Instituto Bíblico de Roma, diante das inconveniências e diferentes traduções daquilo que está escrito, apontam o texto como obscuro e corrompido, por erros de tradutores e copistas, e até pela ausência de algum original, como se da Bíblia algum único manuscrito, original de fato, tenha chegado integral até nossos dias. Para os versículos 19 a 23 de Isaias 8 qualquer transposição é arbitrária.
Também se pode observar que algumas traduções não dão ao hebraico 'elohim', o significado de espíritos, conforme os mais antigos documentos sobre o texto. Tal prática aliada a certas adaptações gramaticais, tendenciosas, quase que modificam por completo o sentido original bíblico, ou aquilo que está posto no mais antigo manuscrito do Livro Isaias.
Para estudos e compreensões mais acuradas, vemos que os versos antecedentes, 11 ao 18 daquele capítulo, apontam o povo hebreu em oposição a Javé, repelindo seu profeta e se fazendo recorrente [versículo 19] às certas práticas de consultas aos espíritos, através de intermediários não autorizados, exatamente porque o profeta lhe traz advertências e maus presságios.
Então o profeta brada o alerta que, mesmo o povo hebreu indo a busca de lenitivos junto aos adivinhos e evocadores de espíritos, como outras nações o fazem e recomendam, estes [os espíritos] certamente lhe darão a mesma mensagem de advertências e os mesmos maus presságios enunciados por Javé, ou seja, não vão prometer dias melhores, por isso a recomendação "segui a instrução e advertência [deles]".
O mensageiro de Javé até questiona legitimamente: "porventura não pode um povo consultar espíritos?".
Evidente que a Bíblia não recomenda aos hebreus [em Deuteronômio 18: 10-16 até proíbe e condena], mas admite consultas aos espíritos, pelos necromantes e adivinhos, que chilreiam e murmuram entre os dentes, cujas mensagens até podem ser corretas, se de conformidade com os dizeres do próprio Javé. Um exemplo claro, seria o profeta Balaão, não hebreu, em contatos diretos com um espírito [mensageiro] da parte de Javé.
Nos versos 21 e 22 do capítulo 8 de Isaias, está escrito que: "se os espíritos [consultados] não falarem de conformidade com as regras [até do próprio Javé], tais espíritos estão ainda na escuridão", isto é, não suficientemente desenvolvidos ou evoluídos para aconselhamentos, e assim eles passarão pela terra "duramente oprimidos e famintos...até que lhes seja dissipada a escuridão", tantas vezes quantas necessárias forem, para seu aperfeiçoamento e evolução espiritual. O versículo 23 que consta apenas na versão PIBR, mais fiel aos manuscritos, dá seqüência ao verso anterior: "porque não será imerso na escuridão, quem se achava em angústias. Num primeiro tempo tratou com desprezo as terras de Zabulon e de Neftali, e num segundo, nobilizou a rota do mar a outra banda do Jordão, a Galiléia dos gentios". 
As traduções bíblicas mais utilizadas pelos denominados crentes evangélicos, ignoram o verso 23, mas num sentido geral, pelo que está escrito numa e outras versões, a mutilação não está suficiente para negar práticas espíritas explícitas, não traz censuras nem proibições quanto ao ato de se recorrer aos mortos em favor dos vivos, apenas recomenda a coerência necessária dos comunicantes, e se tal não houver, são evidentemente espíritos ainda não evoluídos.
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Para a continuidade do assunto: Da teologia da reencarnação - II

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