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sábado, 3 de abril de 2010

PERFÍDIAS APOSTÓLICAS

O perfil e interesses de cada um dos doze apóstolos 
1. Pedro
"Tu és Pedro [Cefas] e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do in-ferno não prevalecerão contra ela" (Mateus 16: 17).
Simão, que se tornou Simão Pedro a partir do versículo acima, é o primeiro citado dentre os apóstolos, talvez o maior deles em importância ao lado do 'tardio' Paulo, sem dúvidas também o primeiro a se decidir pelo Mestre, embora não necessariamente o primeiro a conhecer Jesus, segundo as Escrituras neotestamentárias.
Quem era tal homem que, uma vez diante de Jesus este não hesitou chama-lo 'barjona'?
A Bíblia nos diz Pedro filho de certo João (evangelho de João 1: 42), todavia alguns copistas e tradutores bíblicos apontam-no, para acerto de situações e não constranger os primeiros cristãos, como filho de Jonas - 'bar-Yonhah', pouco a interessar textos mais antigos que o ditam 'bar-Yohanan', isto é, 'filho de João'.
O que isto importa? Que diferença nos faz se Pedro era filho de João ou de Jonas?
Acontece que Barjona, conforme grafia aramaica utilizada nos livros sagrados, como identificação complementar a Simão Pedro, significa "o fora da lei" ou, mais propriamente para a época, militante do partido político nacionalista, proscrito, chamado 'Barjonin'. Há séculos a língua hebraica deixara de ser falada pelos judeus, nos tempos de Cristo ninguém mais se valia desse idioma, "portanto barjona [no aramaico] deve ser entendido como alguém militante político e não filho de...", fundamentando-nos nos estudos de Danillo Nunes (Judas Traidor ou Traído?).
Há tendência geral, para as próximas edições [ou versão] bíblicas, que a citação filho de Jonas venha prevalecer sobre o correto, contudo é impossível não reconhecer em Pedro certas características impulsivas, cujos atos são próprios dum extremista político bastante acostumado a liderar, exigir e fazer-se respeitar dentro duma oligarquia informal que ele próprio criara.
Mas porque Jesus escolheu e manteve ao seu lado um líder revolucionário, e ainda o destacara dentre os demais companheiros?
Porque a mensagem de Jesus era política, tanto de libertação quanto de governo para Israel, tão bem identificada por Simão Pedro cujos interesses estavam para o materialismo formal.
2. André
"E um deles era André, irmão de Simão Pedro" (João 1: 40).
"Novamente, no dia seguinte, João [Batista] estava com dois de seus discípulos"; "e um deles era André, irmão de Simão Pedro" (Evangelho segundo João, 1: 35 e 40). O outro chamava João, filho de Zebedeu, cujo nome lhe foi omitido, pela 'modéstia' daqueles que o homenageariam um dia, com o evangelho que leva seu nome; de João Zebedeu, nos ocuparemos mais adiante.
André parece-nos menos militante político que seu irmão Pedro, pois nenhuma vez é mencionado 'barjona', seja por filiação paterna ou política, no entanto visto naquilo tão pouco que a Bíblia lhe diz respeito, como um dos primeiros dentre os apóstolos a aproximar-se de Jesus, conhece-lo na intimidade e impressionar-se, todavia sem tomar posição de segui-lo ou a ele dedicar-se integralmente, o que somente viria fazer após decisão de Pedro (João 1: 35-42).
Esta atitude de André coloca-o assim submisso a Pedro, liderado e a ele solidário, posto senão militante ou ativista político de primeira ordem, ao menos simpatizante dos 'barjonins', não lhe sendo impróprio afirmar que jamais seguiria Jesus, sem a presença forte de Pedro.
André, entretanto, tinha seu alto valor naquela comunidade, como homem da mais absoluta confiança do apóstolo Pedro, em especial ao fazer-se presença do irmão quando este se ausentava do grupo, juntamente com Tiago e João, às vezes por longos dias, em companhia do sempre imprevisível Jesus.
3. Felipe
"E [Jesus] achou a Felipe, e disse-lhe: segue-me" (João 1:43).
De Felipe (João 1:43-44), diz-se dum liderado por Pedro, empregado deste conforme o texto – verso 44 – que o apresenta como de Betsaida, mais propriamente 'Beth-Saidan', ou seja, da casa dos pescadores, [local de trabalho em preparo de peixes para comercialização], onde Pedro e Zebedeu (ou os filhos deste) eram sócios numa empresa de pesca (Lucas 5: 10), e tinham empregados (Marcos 1: 16-20). Alguns especialistas colocam 'Beth-Saidan' como aldeia ou pequena vila de pescadores, todos porém concordes que ali Pedro e Zebedeu eram estabelecidos.
Felipe está sempre abaixo dos irmãos Pedro e André, e João e Tiago, por isso muitas vezes denominado pelos estudiosos como o quinto apóstolo. Numa passagem, João 12: 20-22, vemos Felipe submisso a André, consequentemente a Pedro, para aproximar-se de Jesus, o que lhe evidencia dedicação, respeito e subordinação a Pedro.
4. Simão
"E, quando já era dia, [Jesus] chamou a si os seus discípulos, e escolheu doze deles, a quem deu o nome de apóstolos"; "e, [entre eles], Simão, chamado Zelote" (Lucas 6:13 e 15).
Então, entre os apóstolos existia este Simão, identificado em Lucas 6:15 e Atos 1:13, como zelota, ou seja, membro do partido político de libertação conhecido como Zelote.
Certos estudiosos consideram o designativo zelote, oriundo do aramaico 'qua-naan', para concluir que Simão era cananeu e não membro integrante do zelotismo. Todavia, nos textos mais antigos, "a letra inicial é diferente da do topônimo 'qan'ana' e da do etnônimo can'ana”; can'ana é traduzido por cananeu e qan'ana significa zelote [zeloso] (Danillo Nunes, op.cit; Bíblia - versão PIBR, notas de rodapé).
Também os zelotas, a título de esclarecimentos, são notoriamente conhecidos, na história de Israel, como membros atuantes de um partido político de profunda inspiração religiosa. Conforme Danillo Nunes "foi o que levou Morrison [W.D.] a afirmar que a 'grande fé dos zelotas' de que os judeus seriam resgatados dos romanos, derivava da convicção que tinham de ser 'a raça escolhida por Deus'’; de que 'o fim estava próximo'; o 'invasor seria esmagado' e o 'Reino de Deus, com sede em Jerusalém, em breve aconteceria sobre o mundo".
A história registra os zelotas liderando levantes contra dominadores de Israel, em diversas ocasiões, bem lembradas a revolução de 66 EC, a guerra de 70 onde morreram em torno de um milhão e trezentos mil judeus, e a ultima das grandes guerras antes da Diáspora, a revolta rabínica nacionalista de 132, lidera por 'bar-Kochba' [filho da estrela], o único Messias reconhecido por verdadeiro pelos judeus da antiguidade.
5. Tiago
"E [Jesus] subiu ao monte, e chamou para si os que ele quis, e vieram a ele"; "e [chamou] a Tiago, filho de Zebedeu, e João seu irmão" (Marcos 3: 13 e 17).
Tendo já dois extremistas dentre os seguidores de Jesus, e dois pelo menos simpatizantes devotados a Pedro, vamos aos irmãos Tiago e João, conhecidos como Boanerges (Marcos 3:13), com significado por filhos do fogo ou do trovão, como ensejam certos tradutores das Escrituras, de qualquer maneira um apelativo referente a fogosos, dado quanto ao caráter e ação política terrorista daqueles dois irmãos, observadas em Lucas 9: 54: "Senhor, queres que mandemos que ateiem fogo e os destrua?"
O versículo não deixa dúvidas tratar-se de ação humana, mesmo que algumas traduções queiram substituir 'atear fogo [incendiar]' por 'descer'. A versão Almeida acrescenta ao verso referido: "[assim] como Elias também fez", para justificar melhor as pretensões daqueles violentos companheiros de Jesus. Tiago quanto João sabiam, não eram ignorantes para tanto, que jamais fariam simplesmente descer fogo dos céus, como algo miraculoso.
Tiago (Atos 12: 2) viria ser o primeiro mártir dentre os seguidores diretos de Jesus, sem esclarecimentos maiores do porque sua morte e não também a de Pedro, permanecendo este encarcerado (Atos 12: 3), enquanto alguns dos demais companheiros colocavam-se a salvo nalgum esconderijo, nos arredores da cidade (Atos 12: 12-17).
Confrontando textos bíblicos isolados, compreende-se que por volta do ano 43-44, conforme nos é dado entender, os judeus ortodoxos de Jerusalém irritaram-se com certas concessões dadas a Paulo [o apóstolo tardio], pelos judeus messianistas, o que hes desencadeou perseguições, exigidas pelos ortodoxos junto aos maiorais judeus e representantes do governo de Roma. Naquela época ainda não se aplicava o designativo cristão para os segui-dores de Jesus.
Não é improvável que alem de Pedro e Tiago tenham sido capturados juntos, ao lado de outros fiéis menos famosos, porém apenas Pedro mantinha certos acessos junto a políticos situacionistas, senão conhecedor de policiais [soldados e carcereiros] subornáveis, daí a narrativa de sua libertação estonteante, da qual somente não se pode atribuir ato de milagre porque, uma vez liberto, Pedro fez apenas rápido contato com os companheiros [escondidos], antes de pôr-se em fuga para nunca mais voltar a Jerusalém – Atos 12:1-17.
Tiago, a quem Herodes matou à espada - determinou-lhe a morte, não teve a mesma sorte de auxílio angelical acontecida a Pedro.
6. João
"Ora, um dos discípulos [João], a quem Jesus amava, estava reclinado no seio de Jesus" (João 13:23).
Sem dúvidas João é o mais pretensioso dos apóstolos, com uma aparência toda especial de humildade, todavia negando a eficácia dela - paráfrase bíblica.
João esteve ao lado do Mestre com nítidos interesses políticos e materiais, almejando para si, assim como Tiago seu irmão, posição de destaque junto ao Rabino, quando da instalação do reino terreno, a partir de Jerusalém (Marcos 10: 35-37).
Mateus 20: 20 coloca que teria sido a mãe de João e Tiago, quem fizera tal pedido a Jesus, como expediente para acertar situações embaraçosas, de interesses políticos e materiais, entre os apóstolos e primeiros cristãos.
Antes de fazer parte do grupo de Jesus, João foi discípulo do Batista (João 1: 35-39), também amado [especial] posto como um dos dois que privaram dum momento particular-mente extático do Batizador.
João não foi nenhum exemplo de passividade e amor, que seus seguidores tentam nos passar através dos livros bíblicos, honrados com seu nome como de sua autoria: evangelho, duas epístolas e a Revelação, também chamada Apocalipse.
João era, como seu irmão Tiago, um Boanerges - terrorista incendiário - e dos ensinamentos dele, após o Pentecostes, se estruturaram os gnósticos - já pré-existentes - para infiltrações na comunidade dos messianistas, com isso a causar o primeiro cisma entre aqueles que um dia seriam chamados cristãos, conforme se vê em Atos 8: 9 e seguintes.
De fato Félicien Challaye, em sua Pequena História das Grandes Religiões, às páginas 209, considera ultramarciônico o evangelho segundo João que, "escrito para místicos e platônicos, absorve o Deus do Antigo Testamento no Pai". Marcion foi um cristão herético, fervoroso discípulo de Paulo, considerado "um dos maiores gênios religiosos da humanidade" da mesma obra de Challaye, páginas 220.
O Pontifício Instituto Bíblico de Roma PIBR, a título de posicionamento cristão, em Notas Explicativas referente Atos 8:10 entende que a referência "esse homem [Simão] é a potência de Deus, chamada a grande", termo que o próprio PIBR esclarece como "esotérico da seita de Simão".
"Como quer que seja, temos aqui a primeira alusão ao movimento gnóstico, já pré-existente àquele tempo, com suas teorias de potências, e os eões intermediários entre Deus e o homem e suas genealogias, a cujas infiltrações no ambiente cristão primitivo aludem também [as cartas segundo] Pedro, Paulo e Judas, e que depois recebeu o desenvolvimento máximo nas heresias gnósticas do século II".
Mas o que nos interessa isso de João Zebedeu?
Com certeza não é desmistificá-lo da aura que lhe emprestam os cristãos, e nem despoja-lo do título 'o apóstolo do amor'’, mas tão somente classificá-lo como igual aos demais seus companheiros, isto é, imbuído dos mesmos interesses, material e político, para suas aspirações, não hesitando recorrer a expedientes que possam promover contendas e discórdias, com isso minar grupos concorrentes, contrários aos seus interesses.
7. Judas Tadeu
"Ora o nome dos doze apóstolos são estes (...) e Labéu, apelidado Teudas" (Mateus 10: 2-3).
Um outro apóstolo de poucas referências bíblicas é Lebeu cognominado Teudas, identidade que estudiosos pretendem como variante de Judas e Tadeu, daí a tradição Judas Tadeu.
De onde veio ou porque lhe foi dado o apelido que tem por significados 'peito forte' e 'ardoroso defensor'?
Evidente que para designativo assim, Lebeu ou seria alvo de gozação ou merecedor do título, fosse por algum gesto ou ato pelo qual se fez conhecido, ou, por haver participa-do de um grupo político-religioso, ainda antes da sua estadia com o Batista.
Não há razão para considerar o cognome Teudas como mero apelativo, se esse nem de longe pudesse ser referência de possível passagem sua por algum grupo político messiânico. E foram muitos os Teudas, Tadeu e Judas, nomes comuns na região, que marcaram presenças revolucionárias em terras da Galileia, Samaria, Judeia e circunvizinhanças, num período mais ou menos recente, em relação ao surgimento de Jesus ou João Batista.
A aventura messiânica não foi exclusividade de Jesus, e nem algo tão incomum quanto se pensa, a exemplo do que nos relata Marcos 9: 38-41 a respeito dum Messias surgido na mesma época de Jesus, com realizações de obras e pregações tão semelhantes a ponto de confundir seguidores de um e outro. Também o próprio Jesus exerceu, ao tempo de João Batista, durante algum tempo, ministério bastante próximo e com a mesma mensagem inicial.
Atos 5: 36-39 menciona um homem conhecido por Teudas, líder messiânico fracassado ou cabecilha de um bando de proscritos, como desejam algumas Igrejas. Josefo refere-se a um líder revolucionário, também chamado Teudas, atuante entre 44-46, que no entanto não parece ser o mesmo do livro de Atos, vez que nesse a referência é dum fato já consumado, por volta de 33-36, tratando-se de provável homônimo e apenas mais um líder, dentre os tantos chefes de revoltas, em épocas diversas, na Judeia, Galileia ou Samaria.
Se o autor bíblico ou o copista não cometeu justaposições, temos uma pista de quando se levantou um outro cabecilha: "Depois dele [Teudas] surgiu, nos dias do recenseamento [que a história nos diz ser o ano 6], Judas, o galileu, que arrastou uma multidão atrás de si..." (Atos 5: 37).
Mais a título de curiosidade, esse levante político religioso liderado por Judas, foi o mais sangrento dos enfrentamentos, até então, entre romanos e judeanos, onde praticamente engajaram-se todos os homens de Israel, em idade de luta, fossem eles ati-vistas políticos ou não. Admite-se que José, esposo de Maria [mãe de Jesus], tenha morrido num dos confrontos, no ano 6, quando o futuro Messias teria doze ou treze anos de idade, pela versão de Mateus.
Retornando ao apóstolo Lebeu, entendemos que ele tenha sido de fato um dos segui-dores de Teudas [ou de Judas], provavelmente ainda bastante jovem, a manter, porém – quando seguidor de Jesus – o mesmo ideal que lhe valeu o apelido de ‘ardoroso’, que em aramaico lê-se, exatamente, Teudas.
Flávio Josefo, nas suas Antiguidades Judaicas, admite essas possibilidades, isto sem levar em conta que Teudas, Judas, Tadeu, etc, são nomes bastante comuns entre os judeus da época. 
Trata-se da Revolta dos Gaulonites - em Gamala na Gaulonítide, além do lago Tiberíades. Consta que no princípio dos acontecimentos foram através de táticas de guerrilhas organizadas pelos galileus, judeus, samaritanos e demais povos habitantes da região, também subjugados por Roma.
8. Tomé
"Ora Tomé, um dos doze, chamado o Gêmeo (...)" (João 20: 24).
Tomé é um o apóstolo conhecido muito mais pelo seu gesto de incredulidade quanto à ressurreição de Jesus, que por quaisquer outras obras pessoais.
De Tomé, algo nos chama atenção quanto ao seu cognome: Dídimo (João 11:16) com significação de Gêmeo. A Bíblia não nos dá nenhum esclarecimento do porque Tomé ser chamado de Gêmeo, e alguns estudiosos -nada sérios evidentemente - referem-se até que ele seria irmão idêntico de Jesus.
Para entendermos o significado daquele chamamento, encontramos resposta apenas no apócrifo conhecido como 'O Evangelho Segundo Tomé, o Dídimo', cujo intróito informa "São estas as palavras secretas que Jesus, o Vivo, proferiu e que Tomé, Gêmeo de Judas, escreveu (...)."
O apócrifo de Tomé era conhecido no século III, nos papiros de Oxyrhynchus, faltando-nos fontes ou referências anteriores. A transcrição de referido evangelho tem a assinatura de Maria Helena de Oliveira Tricca, em Apócrifos - Os Proscritos da Bíblia, Editora Mercuryo, 1989: 317 e seguintes.
A lógica nos indica que esse tal Judas, gêmeo de Tomé, devia ser alguém bastante conhecido e importante para simplesmente ser citado nominal, sem necessidade de nenhuma outra referência para época, o que nos permite concluí-lo uma das personagens, Judas ou Teudas, certamente o mesmo que servira de inspiração a Lebeu.
Citações acima pareceriam vagas, não fosse uma referência bíblica quanto ao caráter revolucionário e coragem de Tomé: "Vamos nós também e, [se preciso], morramos com ele" (João 11: 16). As palavras de Tomé ocorrem num momento de discussão entre os apóstolos e Jesus, quanto a viabilidade ou não de se caminhar até Betânia, onde Lázaro, amigo pessoal do Rabino, estava enfermo, e as discussões davam-se porque os judeus pretendiam matar o Mestre, ou faze-lo prisioneiro. O 'vai não vai' acalorado provocou adiamento, de dois dias, para viagem do grupo em direção a Betânia.
Uns 'entendidos' referem-se a ocorrência gramatical, que permitiria duas interpretações de referido versículo, tanto com significado de 'morrer assim como morto estaria Lázaro' ou 'morrer com Jesus, se necessário, nas mãos dos inimigos'. 
O texto é de fato demonstração da coragem de Tomé, mesmo diante às perseguições e 'aos perigos por parte dos judeus' em relação a Jesus e os seus (PIBR (Bíblia), Notas Explicativas: 1346/A), atestados em antigas cópias manuscritas, posto que nenhum original bíblico [Antigo e Novo Testamentos], repetimos, chegou até os dias atuais.
Então Tomé tinha consciência daquilo que o esperava dentro do grupo de Jesus, onde possíveis confrontos armados ou ataques de guerrilhas, não seriam novidades ou coisa para se temer diante de inimigos, tanto os entreguistas quanto os dominadores, afinal já fora treinado e certamente veterano em enfrentamentos da ordem, quando militante nos campos de batalha, junto a seu irmão gêmeo.
Também, Tomé não acreditar no Mestre ressuscitado seria bastante compreensivo e justificável, afinal seu gêmeo fora também um Messias que, uma vez morto, jamais retornara ao mundo dos vivos.
9. Mateus
"E Jesus passando adiante dali, viu um homem que se chamava Mateus, assentado na alfândega" (Mateus 9: 9).
Mateus Levi era publicano em Israel, o que equivale dizer cobrador de impostos e responsável pelos serviços aduaneiros, entre outras atividades próprias da função, a favor dos romanos, portanto nada que fazer em companhia dum bando inexpressivo de galileus, políticos exaltados, sempre em caminhadas incertas de um lugar para outro, como se em fugas constantes ou para despistar e fugir de perseguidores.
Senão por interesses políticos, e seu ato de seguir Jesus bem o demonstra, Mateus não foi nenhum bom convertido religioso, vista quando, em vez do arrependimento pela vida de exploração ao próximo que levara até então, promove grande festa de despedida, com outros publicanos e autoridades (Lucas 5: 29), como a apostar no êxito da missão libertadora à qual se engajara, por deferência especial de Pedro, embora já conhecesse Jesus desde tempos do Batista.
O que levaria o empresário [pescador] Pedro relacionar-se com o odiado Mateus cobrador de impostos, a ponto de ambos participarem duma mesma tão arriscada jornada?
Embora detestado pela população produtiva de Israel, especialmente de Cafarnaum onde era autoridade fazendária, Mateus sem dúvidas tinha todo aquele prestígio que o dinheiro pode ofertar, posto ser rico, além de contatos com gentes mais poderosas e autoridades diversas, enfim um homem estudado e bem relacionado, o que fazia dele espécie de embaixador do Nazareno e seu grupo.
Foi certamente pelo prestígio de Mateus e os recursos financeiros, investidos por ele e seus amigos, para o sucesso da campanha de Jesus, que Pedro deferiu seu ingresso junto ao seleto círculo do Rabino, evidenciando a materialidade consubstanciada da ambição de ambos.
Tanto Pedro quanto Mateus, evidente Mateus muito mais, apostaram num grande negócio, optando pelo incerto triunfo da empreitada, desde que deixaram a segurança de seus empregos.
Pedro, empresário da pesca, decepcionado com o destino final do Mestre, retornaria àquilo que era seu (João 21), para novamente abandonar, aí sim definitivamente, a profissão de pescador. Por seu lado, Mateus perderia toda a segurança que o emprego lhe dera, provavelmente conquistado pelo dinheiro ou pelo prestígio, senão ambos.
10. Tiago - filho de Alfeu
"E [Jesus] nomeou doze para que estivessem com ele e os mandasse pregar" e "[dos chamados], Tiago filho de Alfeu" (Marcos 3: 14 e 18).
Tiago, filho de Alfeu (Mateus 10: 3 e referências), não teve a fama e prestígio de seu homônimo, filho de Zebedeu, e sua participação junto ao grupo de Jesus, talvez nunca tenha passado como mera citação numérica.
Talvez a única razão para sua contagem como um dos doze apóstolos, se deva uni-camente a seu irmão Mateus, considerando o evangelho segundo Marcos 2: 14, que cita um certo Alfeu como pai de Mateus, com certeza tratando-se desse Alfeu a mesma pessoa vista em Mateus 10:3. Mateus, pelos que escreveram o evangelho que leva seu nome, parece-nos um tanto reservado em relação aos seus, pois não se refere uma única vez, diretamente, ao pai, irmão ou qualquer outro membro de sua família.
Ainda assim entendemos que Tiago tenha exercido, dentro do grupo de Jesus, o mesmo papel que André irmão de Pedro, ou seja, da absoluta confiança do irmão famoso, informante preciso e representante leal dentro das discussões e decisões menores do grupo.
Acreditamos que Mateus, pela sua cultura, conhecimento social e influência nos meios judeu e estrangeiro, era dado a muitas e prolongadas ausências do grupo, numa espécie de embaixador daquela comunidade junto às autoridades estabelecidas, que tão bem as conhecia, além do relevante papel de negociar financiamentos ou recursos para a campanha do Rabino, junto aos ricos e influentes; daí a grande importância de seu irmão que certamente fazia-se senão representante ao menos informante ao irmão famoso.
11. Natanael
"Jesus viu Natanael vir ter com ele" (João 1: 47).
A figura de Natanael é quase um mistério na Bíblia, mencionado apenas no evange-lho de João (1: 45-51 e 21: 2), talvez o único dentre os escolhidos a criticar, abertamente, a seita religiosa dos nazarenos, da qual Jesus fazia (ou havia feito) parte.
O mesmo escritor de João menciona encontro anterior de Jesus e Natanael (versos 4850 do capítulo 1), antes que Filipe os apresentasse com certeza ainda nos tempos que Jesus e aqueles que seriam os seus acompanhavam João Batista.
Quem foi Natanael?
Provavelmente tenha sido Bartolomeu, que faz parte do rol de apóstolos descritos nos três evangelhos sinóticos (Mateus 10:3 mais as referências) e em Atos (1:13), sem uma prova efetiva além da citação nominal: onde surge Natanael não aparece Bartolomeu e vice-versa.
Quem é e porque fez parte do grupo de Jesus?
Ele foi comunicado por Felipe a respeito de Jesus e seu ministério, o mesmo Felipe que antes de ser apóstolo [seguidor do Mestre] fora pescador, possivelmente empregado de Pedro e sócios (família Zebedeu). Só com essa informação, já poderíamos pressupor Natanael também pescador, uma vez 'achado' em Betsaida, o que bem pode identificá-lo provável companheiro de serviço de Filipe.
No evangelho de João 21: 2, Natanael é identificado como natural de Cana, na Galileia, e encontrava-se com Pedro, Tomé, João Zebedeu, Tiago Zebedeu e mais dois dos apóstolos (André e Felipe?), junto ao lago Tiberíades, onde Pedro e os irmãos Zebedeu mantinham a empresa de pesca, através de familiares.
Destes, à exceção quem sabe de Tomé, a tradição aponta os demais como pescadores, que retornaram à profissão após o fim inesperado de Jesus; estudiosos compartilham que aqueles 'apóstolos haviam de fato voltado para a Galileia, retomando sua costumeira profissão' (PIBR, Notas Explicativas: 1362/A).
A identificação dada que Natanael era de Caná, na Galiléia, não o identifica 'qan’ana' – militante zelote, e sim alguém [oriundo] da localidade de 'Kefr-Kenna'.
12. Judas Iscariotes 
"Depois de convocar os doze deu-lhes poder e autoridade sobre todos os demônios e para curarem doenças"; "e também Judas Iscariotes" (Lucas 9: 1 e 6: 16).
A Bíblia, e por razões óbvias, fala-nos tão pouco de Judas Iscariotes, que é extremamente difícil descrever sobre ele e, mais que isso, analisá-lo quanto às condutas ou razões que o levaram a trair o Mestre Jesus, após algum tempo de estreita convivência e confiança mútuas.
Todos os estudiosos, sem paixões religiosas, apontam esta dificuldade, apesar de tantas buscas a respeito.
Pela Bíblia sabemos que Judas tomou parte no ministério de Jesus (Atos 1: 16-17 e os evangelhos), o que significa não haver sido apenas admirador ou companheiro circunstancial de jornada, situação geralmente colocada em se tratando dos discípulos e não apóstolos.
Consta ainda que Judas conheceu Jesus, como todos demais apóstolos e muitos dos discípulos, desde os tempos de João Batista, ou seja, 'a partir do batismo de João' (Atos 1: 21 e 22).
As Escrituras atestam que Judas em nada foi menor que qualquer outro dos apóstolos; como eles foi designado para missões de evangelização, expulsou demônios e curou os enfermos (Mateus 10: 5 e seguintes; Lucas 9: 1-6).
Judas foi, no mínimo, o quinto homem de maior importância dentre aqueles que cercavam Jesus; os outros seriam João, Pedro, Tiago e o próprio Mestre. A sua condição de responsável pelas finanças do grupo (João 12: 6 e 13: 29), dava-lhe destaques e confiança absoluta, não só de Jesus mas também de seus companheiros, dos quais recebera apoio para exercício do cargo, portanto bastante hábil em matéria financeira e gerenciamento [cuidados materiais e de bem estar] do grupo.
Os evangelhos sinóticos não deformam o caráter de Judas antes da ultima ceia, apenas citam-no como 'aquele que havia de trair o Mestre'; João no entanto o faz, julga-o, antecipadamente. Vejamos:

  • Mateus 26: 6-13 diz sobre um jantar em Betânia, na casa de um certo Simão, a-cometido de lepra, e quando Jesus à mesa, uma mulher veio e derramou-lhe [precioso] unguento sobre a cabeça; o texto, versos 8 e 9, referem que os discípulos, aqueles mais próximos do Mestre, se indignaram com tremendo desperdício, pois que o unguento poderia ser vendido por um bom preço e dar o dinheiro aos pobres. Dar aos pobres significava evidentemente ser entregue a Jesus e, consequentemente, ao grupo.
  • Marcos (14: 3-9) descreve o mesmo assunto, informando que a mulher trazia unguento de puro nardo num vaso de alabastro, e igualmente seus mais próximos se indignaram com aquele desperdício que poderia render 'mais de trezentos dinheiros que bem poderia ser dado aos pobres'.
  • Apesar de Marcos e Mateus concordes com os relatos, João (12: 1-6) apresenta-nos história próxima porém com outros detalhes: não era mais na casa de Simão, o leproso, que a cena desenrolara-se, mas na de Lázaro a quem Jesus ressuscitara dentre os mortos; a mulher ungiu os pés do Mestre com o unguento, não mais sua cabeça, e a mais significativa das diferenças ou revelações: não são mais os discípulos de Jesus que se indignam com o desperdício do unguento, de cuja venda se poderia render muito para os pobres, e sim unicamente Judas, e não porque tivesse cuidado com os pobres, assim está escrito, mas porque era ladrão e roubava tudo o que se lançava no caixa [bolsa] do grupo.
Claro que se João não esteve a mentir, certamente o fizeram Mateus e Marcos, havendo razões suficientes para admitir João como o falto com a verdade.
Das citações de João a incriminar Judas como ladrão dos cofres da comunidade (capítulos 12: 6 e 13: 29), qualquer especialista compreende os textos postos tardiamente, já no terceiro ou quarto século, com intenções de se forjar uma personalidade deformada, para aquele que haveria de trair Jesus.
Porque resolvera Judas Iscariotes seguir Jesus, ser um dos mais fiéis dentre os discípulos, para depois simplesmente entregá-lo aos inimigos?
Certamente o grande segredo para entendermos Judas, e os motivos que o levaram em busca dos dois grandes pregadores, João Batista e Jesus, encontra-se na seqüência de seu nome, ou seja, Iscariotes, como também era conhecido Simão, seu pai (João 13: 26, tradução PIBR).
Tal designativo, segundo especialistas, derivaria do hebraico 'isch-kerioth', homem de Kerioth, hipótese que prevaleceu durante séculos, ainda hoje adotada por muitos teólogos vinculados a credos religiosos.
A dificuldade para se localizar uma aldeia ou cidade de nome Kerioth, na Bíblia ou em qualquer geografia da antiga Palestina, tem suscitado dúvidas entre os especialistas se realmente Iscariotes seja referência ao local de origem de Judas.
O livro de Josué 9: 17, menciona a cidade de 'Cariat-Jearim' cujo nome traz certa proximidade com Kerioth; ainda no mesmo livro Josué 15:'15 e 15:'25, encontramos 'Cariat-Sefer' e 'Cariot-Hasrom', mas nenhuma destas localidades apresentam-se, pelo próprio significado de nomes, como a cidade natal de Judas. 'Cariat' significa cidade de alguém ou de alguma coisa, por exemplo, 'Cariat-sefer' é cidade do livro ou da sabedoria.
Também Jericó, tão bem conhecida na Bíblia, não é certamente a localidade pretendida, pois a nominação 'Jericote' como corruptela donde derivaria Iscariote, é mera especulação daqueles que pretendem acertos ou justificativas bíblicas para citações incertas.
Josefo, em suas Antiguidades Judaicas menciona uma certa localidade de nome 'Ko-reae', citada por Danillo Nunes, autor que pretende Judas como de origem judia.
Muitos exegetas atuais, acreditam que Iscariotes seja originário de 'Sychar', um povoado samaritano mencionado em João 4: 5, com referências bíblicas no Livro de Gênesis 33:1 8-19 como a cidade de 'Siquém' (nome próprio do fundador); na mesma Gênesis 48: 22 diz-se da localidade como 'extensão de terra', em hebraico 'sëchem', uma paranomásia com 'Siquém'. Informa-nos o PIBR nas notas explicativas sobre João 4:5, que Sychar seria uma aldeola de Siquém.
Judas pode ser posto, portanto, 'is'sychar ou isch'sycar', o homem de Sychar, que faculta toponímia 'ischarioth'; nesse caso Judas seria samaritano e não judeu de pura origem.
Os judeus, desdenhando galileus e samaritanos, pelas condições de gente rude, humilde e mestiça, não desperdiçavam oportunidades para demonstrações de intolerância àquelas gentes, como exemplo a Galileia - 'Galil-há-goim' (círculo dos gentios) em João 7: 52.
Da mesma maneira, poderiam eles [os judeus] denominarem de Sicária a facção terrorista dos Zelotas [partido político], seja pela origem ou sede da organização em Sychar [na Samaria], seja em função do nome do líder Abba Sykara [possível fundador ou organizador da facção], ou, ainda, apenas mais uma demonstração depreciativa dos judeus aos samaritanos de Sychar, posto que sicário, para os judeanos, teria o mesmo significado pejorativo que assassino.
Posto Judas ser um sicário, o temos na qualidade de idealista político, ainda que extremista, em luta pela libertação de sua pátria e de resto toda Palestina do jugo romano, além da destituição e pena capital para os 'vendilhões e entreguistas' vistos nas classes sacerdotais e elite, desde sempre à disposição e serviços dos dominadores.
Assim, visando interesses políticos de libertação pátria de mãos opressoras, mesmo que para isso se necessário a guerra, ou de desejar para si - a Bíblia não diz isso dele - bem estar próprio e participação política num novo governo, porventura formado, em nada disso Judas Iscariotes foi diferente dos demais apóstolos.
Discutível, ainda, a morte de Judas. A história hoje parece inclinada a reabilitá-lo numa visão que ele apenas cumprira desígnio divino e não se furtou às responsabilidades. Colabora para esta reabilitação o recém descoberto apócrifo Evangelho de Judas, um texto copta manuscrito com vinte e seis páginas, do século IV, onde Judas pede perdão e Jesus o perdoa.
O texto copta seria uma copia de um documento cainita do primeiro século; para os cainitas a traição fazia parte do desígnio divino para redenção da humanidade, e sem o ato toda humanidade estaria perdida em termos de salvação. Irineu, um santo católico da Igreja Primitiva, em seu Contra as Heresias - ano 180, condena a existência de um texto atribuído a Judas, mais propriamente aos Cainistas.
Entendemos que referido apócrifo é de origem gnóstica, da seita dos Cainitas, que tinham por ato de fé contestar valores cristãos ou messianistas, no costumeiro positivismo às negatividades judaico-cristãs. – valor positivo às figuras negativas.

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